domingo, 11 de fevereiro de 2018

Tudo o que eu queria,
               era que olhasses para mim
         como olhas para os teus livros.

  Que observasses a minha nuca,
enquanto estou de costas,
    e apanho o cabelo,
como se interpretasses um poema.

E passasses as tuas mãos
                   pelas minhas coxas
como de papel elas fossem.

Mas,

    desvias o olhar
e olhas para a lua,
esquecendo o meu nome
  enquanto fitamos o vazio.

A metamorfose cega

Bem, há algum tempo que não escrevo aqui. Acho que tenho estado bastante ocupada, ou então considero isso uma boa desculpa. Mas a verdade, é que tenho estado mesmo ocupada. Claro que o caderno e a caneta andam sempre comigo, e continuo a escrever. Apenas perdi a vontade de tornar público aquilo que escrevo. O que é uma péssima ideia, porque o que escrevo poderia alimentar-me um dia, literalmente. Eu gostaria, pelo menos. As pessoas dizem que eu escrevo bem.
Porém, não sou criativa com as palavras. Tenho dificuldades em criar histórias, em criar alguma coisa com tanta palavra! Gosto de escrever o que fervilha dentro de mim e não pensar demasiado. Criar personagens parece algo tão difícil para mim. Ainda estou a sofrer com uma personagem que tive de abandonar, e acabei o livro há três semanas. Se me apego tão facilmente a personagens em livros, quanto mais a personagens que estão dentro de mim, criadas na minha cabeça e amadas pelo meu coração? Não sei se a minha sanidade duraria muito tempo. Já criei personagens, no entanto. Quando era criança. Escrevia muito, essencialmente histórias e contos. Baseava-me em desenhos animados que via, nos meus familiares, amigos, e muitas vezes, a uma ideia do que eu era. Mas eu era tão nova, sabia lá quem eu era. O eu nem existia. Tenho saudades dessa imaginação imensa. Estava sempre a sonhar acordada, e era uma criança tão visual! Eu via tudo. Conseguia imaginar-me a viver dentro do mar enquanto ia da escola para a casa da minha avó, a olhar para os meus pés.
A criança em mim está a morrer, lentamente. Continuo muito sonhadora. Mas só sonho com o real, com o verosímil, com o possível de acontecer. Já não existe magia no meu quotidiano. Aliás, eu nem sonho muito. Acordo e vivo o dia que se segue, seguindo sempre o pragmatismo, o útil, o que me deixa tranquila.
Felizmente, a minha extrema facilidade em sentir algo dá-me sempre novas sensações e emoções, que por consequência, me dão novas imagens, desejos diferentes, ambições e novas vontades.
A criança transforma-se, talvez. Uma metamorfose cega. Espero eu.