domingo, 29 de maio de 2016

Troca

Gostava de trocar de alma. Ou de corpo. Não sei, apenas mudar o que há-de errado em mim que me impede te fazer tanta coisa. Não sei se é fraqueza da minha alma, ou a falta de destreza do meu corpo. Apenas sei que acordo a desejar uma troca de ser, deixar de ser o que sou, perder-me.
As minhas mãos nunca fazem o que lhes peço. As minhas pernas não me conduzem para onde desejo ir. O meu cérebro não encontra respostas para as minhas perguntas.
E as paredes à minha volta não se destroem sozinhas mas não consigo derrubá-las, a fraqueza domina-me desde o dia em que nasci. Perdoa-me, mãe, sou fraca. Nada faço, nada penso, nada sinto. Sou um espaço. Sou um vazio.


(texto um pouco repetitivo mas escrito num momento de extrema melancolia do meu ser)

sábado, 28 de maio de 2016

sábado, 21 de maio de 2016

Fragmentos do meu ser


Os lençóis transpiram o teu perfume,
e o meu corpo só me pertence,
intocável, a ti.





(desenho editado no Photoshop)

                                                         (desenho original)

domingo, 15 de maio de 2016

Minúscula

hoje acordei de olhos vendados,
não via escuro,
via todas as cores,
a efervescer-me a mente,
uma luz triste - negra.
não me olhei ao espelho,
está tudo distorcido.
onde estás? grita o meu nome,
sussurra o teu amor,
segura-me a mão,
guia-me.
já te disse que vejo mas não vejo,
ceguei-me durante o sono,
será a morte?
esta leveza, estas cores,
será a morte?
eleva-me, querido, faz-me crer,
que piso a vida,
que piso o teu chão,
que ainda vejo os teus olhos.
chamaste-me? grita, por favor,
ceguei-me, ensurdei-me.
toca-me, já disse, toca-me!
estás áspero, frio,
quem és tu?
que agonia esta!
pisaste-me? era o teu pé?
espera, mas quem és tu?
eu só quero ver os olhos azuis,
os olhos azuis do meu bem amado,
só quero o calor do seu toque.
oh amor, guia-me, guia-me.
estou viva eu sei que estou,
que sensação nova é esta.
perdi-me nos teus cabelos?

sábado, 14 de maio de 2016

Experiências

No âmbito de um trabalho académico, realizei algumas experiências que envolve o papel e a luz. Não que esteja algo interessante e invulgar, mas decidi partilhar porque não fiquei descontente com os resultados fotográficos da coisa. Daqui resultará algo final? Eu espero que sim, pretendo passar à cadeira. E espero também que vos agrade.




quarta-feira, 11 de maio de 2016

O tempo não cura

Penso que futuramente me sentarei nesta cadeira, que será velha e ficará gasta, e vou entristecer pelas palavras que tanto ouvi e que se concretizarão, eu sei que sim, mas não acredito ainda nelas, nem quero acreditar. Que me vou sentar, com rugas e de cabeça pesada, e vou-me lembrar das palavras da minha avó "o tempo passa, oh oh, se passa", da velhinha simpática do autocarro "quando eu era nova corria tanto e agora mal sei andar" e a minha mãe, "o tempo cura tudo". E vou-me sentar nesta mesmíssima cadeira em que me sento neste momento e uma lágrima derramar-me-à porque sentei-me nela demasiadas vezes e agora não me vou levantar mais. E que o tempo passou e eu continuei sempre sentada, estagnada no meu ser. E um dia vou olhar para a cadeira velha, eu velha, e não vou ter forças de a desgastar. E o tempo passa, e um dia vou morrer, tu vais morrer, todos aqueles que me tocaram na alma vão morrer, e isto fica apenas marcado nas minhas palavras que morrerão também com o tempo.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Lágrimas ou sangue

Confundo lágrimas com sangue.
Ambos me causam dor:
Lágrimas da alma,
Sangue do corpo.

Qual doará mais?
A lágrima derramada pela tua perda,
Ou o sangue que me percorre as veias,
sem vida

As lágrimas são mais dolorosas.
São dor de alma, de amor.
Meu amor, derramas-te em mim,
em lágrimas salgadas,
que me corroem as faces,
da dor de nunca mais ouvir a tua voz.

Guarda

Agora sim, sinto o vazio,
que tantos falam,
aquele buraco negro na alma,
no coração,
não sei onde é, mas é fundo,
e dói, dói,
dói como quando caía de joelhos,
e achava que era essa a pior dor que existia.

Este vazio,
foste tu que levaste quando viraste as costas,
pela última vez.
Levaste um bocado de mim
entre as tuas mãos,
e espero que o guardes em ti,
e te lembres que fui que o to dei.

Eu também te tenho em mim.
Guardado, lembrado, amado.
Células tuas circulam nas minhas,
fundiram-se e estarás sempre no meu corpo,
no meu ser.
E as minhas mãos navegarão ainda muitos mares,
não esquecendo nunca que foste o porto,
o porto seguro, o porto amado,
um bocado guardado.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Review - A Trança de Inês de Rosa Lobato de Faria

Rosa Lobato de Faria não me consegue desiludir. A sua escrita poética, leve, repleta de metáforas, comparações improváveis, melhora a história na sua totalidade, apesar desta já ser muito bem imaginada. As viagens de Pedro na sua mente louca são apenas geniais. 

A autora inspirou-se na lenda de Pedro e Inês para criar uma história de amor igual, mas na nossa sociedade, e numa sociedade futura, mostrando que este amor será sempre impossível, mas sempre enorme. A história foca-se num Pedro dos finais do século XX e inícios de XXI, que se apaixona por uma Inês, que se evapora das suas mãos, tal como no século XIV, e este compara o seu amor ao de D.Pedro I, que ficou louco por ter perdido a sua Inês. E então, o Pedro atual começa a sentir-se como um rei que perdeu a sua suposta rainha, que nunca chegou a ser rainha devido à mesquinhez e aos interesses alheios. Um amor que o enlouqueceu, que o fez obrigar o povo a beijar a mão da sua amada já falecida, já em decomposição. Um Pedro que acredita que a voltará a ver no Juízo Final e que o seu amor nunca morrerá. Mas na cabeça louca do atual Pedro, este começa a criar uma história futura. 

A história de amor de Pedro e Inês no século XXII é talvez a mais interessante da história, uma sociedade que nasceu na cabeça da autora e que está extremamente genial. Acredito que Rosa Lobato de Faria se inspirou no livro de George Orwell, 1984, porque aqui existe uma sociedade controlada pelo governo, que impede o amor e os sentimentos. 

Tenho de frisar que o livro, já para o final, torna-se um pouco cansativo, a loucura de Pedro torna-se assustadora e um pouco exagerada, e as viagens entre as épocas torna-se confusa. Mas nada disso me fez perder nesta história belíssima e na poesia que esta contém. 

A imaginação da autora é indiscutível e temos aqui um obra grandiosa da Literatura Portuguesa. Uma lenda, um amor proibido, verdadeiro, uma história real de tremenda tristeza. O livro baseia-se mais na lenda do que realmente na história real, mas D.Pedro I e Inês de Castro fazem parte da lista das histórias de amor mais trágicas de sempre. Rosa Lobato de Faria fez renascer este amor na nossa época e numa época futura, lembrando-nos que o amor é igual em todas as sociedades, o sentimento é sempre o mesmo, a dor é igual ao longo dos anos, dos séculos, dos milénios. Que o amor se torne em algo banal, em algo bonito, e não em algo trágico.


Pés pouco assentes

Piso este chão árido
Que se entranha-me pelos poros,
Percorre-me fios de sangue no corpo pálido,
E faz-me finalmente sentir algo.
Corro pelas pedras,
Com lágrimas sorridentes,
vivo este vento cortante,
penetra-se em mim
E esqueço o toque humano
Pelo toque do mar.
Liberto-me de ti, de mim, de tudo,
E enlaço-me na leveza.
E fico leve,
E não sinto os pés,
A aridez dissipa-se do meu ser.
Tudo se me torna leve, mais leve
que o peso da minha alma.