domingo, 24 de abril de 2016

Me

Perdi-me.
Afundei-me no meu oceano.
E não me encontrei.
Perdi o ar,
de tanto tentar, de não parar.
E agora, perdi-me no mar,
no mar que sou eu,
irrespirável,
transitório,
doente.


sexta-feira, 22 de abril de 2016

Uma História Triste

Vou contar a minha triste história, igual a milhões de histórias, um cliché de livros, de filmes, até da vida real.

O meu pai saiu de casa tinha eu 11 anos. O desaparecimento dele dos meus dias cavou um buraco na minha alma que não se consegue preencher. Continuei a vê-lo e a sentir o seu amor mas nunca mais senti os abraços calorosos de quando chegava a casa do trabalho, e o sorriso dele a contar o seu dia, o seu brilho nos olhos quando ouvia o meu. Depois daquele dia, em que pegou nas malas e saiu pela porta da frente, tudo se tornou negro. Os olhos ficaram baços, os sorrisos forçados e os abraços secos.
A minha mãe entrou em depressão. Na altura eu não sabia o que isso era. Ela chorava muito, eu jantava sozinha e, muitas vezes, os cereais do pequeno-almoço, ela demorava quase duas horas a ir-me buscar à escola e faltava muito ao trabalho.

A minha avó salvou-me. Um dia, ela chega a minha casa. A minha mãe estava fechada no quarto, sob o efeito de comprimidos. A minha avó abraça-me, aquele abraço parecido ao meu pai.
- Minha azeitona, queres vir para a casa da avó por uns tempos? - disse-me ela, com tanto calor na voz.
- E a mãe? Ela está triste.
- Não te preocupes, a tua mãe continuará a ver-te, mas a mãe agora precisa de estar sozinha para voltar a ser o que era, compreendes, minha querida? Já és crescida.
Aquela palavra foi como um tiro no meu coração. Já sou crescida? Sou crescida para compreender que a minha mãe está deprimida porque encontrou a solidão no amor?
Lembro-me de baixar a cabeça e da minha avó a entrar no meu quarto a puxar-me por um braço.
- Leva o que tu quiseres, meu amor.
Peguei no meu diário, numa fotografia da minha família outrora feliz, o meu estojo e os livros da escola, enquanto a minha avó punha minha roupa numa mala enorme.
- Não queres levar as tuas bonecas?
 -Não preciso delas.
Agarrei nuns livros e dei à minha avó, e bastavam-me. Encontrara a tristeza demasiado cedo.
Vivi na minha avó durante uns meses. O meu pai jantava lá de vez em quando. Via a minha mãe aos fins de semana.
Quando voltei para casa, a minha mãe já sorria, já cozinhava. Mas também bebia, fumava, muito. Levava as amigas para casa, e eu ficava fechada no quarto a ouvi-las berrar e a falar de homens.
Os anos passaram.
Lembro-me de ter 16 anos.
Havia um rapaz da minha turma que me olhava de uma maneira que nunca tinha sido olhada. Quando os nossos olhares se encontravam, eu perdia o olhar e sentia aquelas tais borboletas na barriga que tanto me apareciam escritas nos livros. Mas fugia. Fugia daquilo. Porque quando chegava a casa, via a minha mãe com uma garrafa de Whiskey na mão. Via o meu pai duas vezes por mês com uma mulher que me era estranha e feliz, esquecendo-se aos poucos da minha própria felicidade. O amor é efémero, e corrói as almas.
Cheguei aos 20 anos sem nunca ter beijado outros ser humano. Chorava no meu quarto porque fui privada de amar. Não conseguia amar nada. Senti-me sempre uma fraca, impotente. Culpo alguém? Claro que culpo. Não culpo o meu pai por ter saído de casa, porque o amor acaba. Mas culpo a minha mãe não ter sido forte e lutar pela sua filha. Ela não estava sozinha. Tinha-me a mim, que precisava mais dela que nunca. Porque me fez isto? E o meu pai, que se apaixonou por uma rapariguinha 15 anos mais velha que eu e também se foi esquecendo da sua filha?
Hoje tenho 36 anos. Saí de casa. Nunca amei. Gostei, mas fugi sempre do amor. Porque afinal, eu sou fruto daqueles dois seres e não queria acabar como eles. E não, não vou ter filhos. Não quero que eles chorem no quarto sem eu saber. Não quero que eles sintam que não são amados o suficiente. E, sobretudo, não quero que nascem numa casa destruída. Sou livre, hoje. Livre na medida do que posso ser. Porque infeliz vou ser sempre. E estou presa a essa infelicidade, mas ao menos aprendi a amar o que sou.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Azula-me

Um conjunto de fotografias tiradas por uma amiga querida à minha pessoa, no Centro Cultural de Belém, na conhecida sala azul, a obra Fargo, Blue, de James Turrell. 
Sou uma apaixonada por mãos, que são, para mim, a parte do ser humano mais bela, nem sei bem explicar. Talvez por elas falarem mais que a minha boca e que, com elas, crio, faço, falo. Decidi brincar um pouco com as mãos e, certamente, terei mais projetos fotográficos que envolvam estes belos membros.






sábado, 16 de abril de 2016

Uma mente de um Introvertido

Acorda.
O alarme já tocou três vezes, acorda.
O quê? Vais ficar na cama?
Acorda, sua inútil, às dez tens de sair de casa.
Finalmente.
Já estás há dez minutos no duche...
Pára de ver televisão e sai de casa, porra.
Já passam dois minutos da dez e só agora é que estás a sair, vergonhoso.
Boa, perdeste o metro. E o autocarro.
Ao menos, tens um livro.
O autocarro está cheio e depois?
As pessoas não mordem.
Ok, ok, ok, ok, acalma-te, tens tudo na mala.
Esqueceste-te do estojo?
Sempre a mesma coisa.
Não faças caretas no autocarro, vão pensar que és esquisita.
Oh não, entrou aquela gaja.
E agora, falas ou não?
Fala, não sejas idiota.
Boa, fingiste que não viste. Continua assim.
Tens uma meia dentro das calças, pareces uma figurinha triste.
Não te esqueças que hoje tens uma festa.
Sim, o que vais levar vestido?
Preto, outra vez? Pois, preto é melhor, para ninguém reparar em ti.
Já te vieram buscar, estão três pessoas no carro.
Calas-te, ris-te das piadas, quando falas, hesitas.
Boa, idiota, boa, vais morrer sozinha.
Estão a falar contigo. Responde. Não gaguejes, caraças!!
És tão estúpida.
Porque disseste aquilo?
Pareces arrogante, ignorante. Boa, rapariga, boa!
És mesmo horrível.
Porque é que ainda sais de casa?
Pertences àquelas quatro paredes.
Não saias.
Não fales.
Cala-te.

Anna, porquê, Anna

Sempre com os pés assentes na terra, mas voaram, voaram nesse amor louco, louco de amor, e perdeste-te no corpo do amado, e esqueceste do teu. Porquê, Anna? Porque me fizeste isto? És louca, tens sede, sede disso que te mata no coração, mata tanto, sentes uma imensidão nesse teu corpo esbelto, que danças, danças no vazio, baloiças nas mãos desses que te têm no poder. E gritas, gritas a esse amor imenso e voas, voas longe, longe da tua época, do teu tempo, voas de ti e da tua cabeça. Sim, onde estava a tua cabeça quando só tinhas coração? E perdeste tudo por esse demónio que te corroía o coração, esse ciúme que comia a pele, os orgãos, os pensamentos. E aterraste quando morreste. E sabias que o amor era cheio, era feliz, mas tu não eras, porque tinhas sede, querias mais, mais, mais amor, mais carinho, querias tudo! E tinhas tudo, tonta, TUDO! E perdeste por seres assim, e agora estou aqui, a chorar as tuas lágrimas que secaram por um amor que era teu, e que queria que fosse meu. Ai, esse amor que sentias nas veias, como se fosse uma doença crónica, silenciosa...E morreste porque não aguentaste a dor dessa doença, e o teu último pensamento foi o teu amor e como era caloroso! Ah, afinal não era uma doença, mas uma comichão! Anna, que dor criaste em mim, por seres quereres tudo e não dares valor ao que tens, essa cegueira que te matou. Não vou chorar mais por ti, porque tiveste tudo. E o teu nome soa de boca em boca, com ventos de inveja de um amor que só tu tinhas, e morreste dele.

sábado, 9 de abril de 2016

Quero ser ninguém

Hoje quero ser ninguém.
Não quero que me chamem, que me toquem,
não quero o sentir de alguém,
porque hoje sinto-me sozinha,
sinto-me um nada,
que só eu entendo esta mágoa a minha.

Não quero ouvir qualquer voz,
nem a tua, meu amor,
não quero falar atrocidades,
ou banalidades,
simplesmente quero sentir a minha dor,
longe da vida das simplicidades.

Já disse que quero estar só,
que não me quero mexer,
contento-me com o som do pó,
que morto está neste quarto,
que oiço o doer,
a dor que não tem dó.

Agora deixem-me ouvir o silêncio vosso,
vocês não têm nada para me dizer,
nada faço nada tenho que aprender,
quero ser ninguém,
não quero ouvir alguém,
quero ser eu,
no mais ínfimo do meu ser,
e chegar ao nada.

(uma fotografia bela que capta a imensidão e o maravilhoso Alentejo, e o meu ser a criar algo estapafúrdio, como eu mesma)


quinta-feira, 7 de abril de 2016

Só de mim

Onde estarei,
penso eu, no mais íntimo de mim.
Quando as flores murcharem,
e o sol não voltar a nascer.


Encontro-me neste frenesim,
sem saber porquê.

A culpa de me sentir assim é de quem?
Há alguém para culpar
Ou para me escapar?
Desta culpa só de mim,
que me deixa insolente,
me deixa assim,
ausente.

Serei sozinha? Estarei só no mundo?
Morrerei comigo? Levarei todos os sonhos comigo?
Isso é justo?
Morro eu,
morrem em mim,
tudo o que sonhei, que nada fiz,
por ser assim.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Vive!!

No outro dia, enquanto caminhava na rua, a levar com o vento na face, pensei na minha infância, como cresci, quem me criou. Às vezes tenho pensamentos assim, quando me encontro sozinha com o mundo. É estranho pensar que as pessoas que me criaram, e que me ainda estão a criar, ou seja, as pessoas que formaram este ser que sou hoje e virei a ser, também já foram como eu: um ser com medo, perdido, caótico e sem rumo. De certo modo, este pensamento reconfortou-me, porque fez-me sentir menos sozinha. Imaginei a minha mãe, hoje toda segura de si, com 16 anos, a cometer os estúpidos erros de adolescente, apaixonada e perdida, a fugir da sua realidade. Imaginei o meu pai, hoje feliz, outrora jovem, confuso, sem saber o que fazer da sua vida ou onde estaria daqui a 20 anos, mas a vivê-la com um sorriso na cara. Imaginei o meu tio, louco, amante da vida, sem saber o que o futuro lhe esperava, mas fazer o que amava.
Neste pensamento, encontrei conforto. Porque não posso torturar-me por estar perdida nesta vida. Por me sentir impotente, inútil ou mesmo sem vocação. Devo fazer o que me cativa, o que me apaixona, a vida há-de me colher nela e encontrarei o meu refúgio, mesmo não sendo necessário tendo um. Encontrarei-me, num futuro, próximo ou longínquo, não me interessa, preciso de confiar no amanhã para amar o dia de hoje. Sei que não estou sozinha. Sei que somos um mar de revoltosos, de jovens idealistas sem saber o que fazer. À medida que os dias vão passando, vou-me apercebendo que a juventude é a minha arma, o meu momento de brilhar. Tenho um corpo que me obedece, uma mente sã e olhos confiantes, tenho o mundo nas minhas mãos, só me falta afiar as garras. Quero tanto viver, quero tanto amar, quero tanto aproveitar estes anos de ouro, de procura, de encontros! A vida está cheia de vida! Não vou deprimir por não saber o que fazer, devo alegrar-me por haver tanto que fazer! Mesmo que seja um mundo desconcertado, sem rumo, eu tenho força para o concertar, eu e muitos. Preciso de viver.



terça-feira, 5 de abril de 2016

Que tens hoje?

O sol hoje apareceu-me à janela,
Refletiu-se-me no olhar,
Penetrando-me a alma,
que tanto precisava desse toque

E acordo melhor,
com desejo de gritar, de saltar,
graças a este brilho matinal,
que me abre o sobrolho,
e me faz amar o dia que se segue.

Escrevo de peito cheio,
como quem ama.
Enfrento o dia,
como um marinheiro se aventura
no mar que não conhece.

Pouso as mãos nas tuas,
abraço-te o tronco e beijo-te as bochecas,
e perguntas-me,
que tens hoje?

domingo, 3 de abril de 2016

Desenhos de Observação: Campo

Nos desenhos seguintes estão representados algumas paisagens alentejanas, feitos durante a Páscoa, na vila de Mourão, perto da barragem do Alqueva, o que permite visualizar paisagens magníficas. Não só desenhei paisagens como alguns pormenores, como flores, pedras, relva. Os desenhos foram feitos a caneta de tinta-da-china e a aguarela. Seguem-se também uns escritos nos desenhos.  









Desenhos de Observação: Turista

Seguem-se alguns desenhos que realizei durante a minha viagem a Paris. Como podem ver, são desenhos rápidos e simples, peço desculpa pela falta de rigor, mas quando se é turista numa cidade tão bela e enorme, o pouco tempo que estou parada não me permite desenhar com pormenor e cuidado. Desenhei sobretudo no comboio e nos restaurantes. Espero que vos agrade.









sexta-feira, 1 de abril de 2016

Pessoas

Pessoas. 
Pessoas.
Preciso de pessoas. 
Infelizmente.
O quanto isto me desola, 
ao meu pobre coração mole,
que nada aguenta
tudo chora.

As pessoas doem, 
não sabem,
ignoram,
magoam, 
sou insignificante.
uma alma pedinte, triste,
ignorante.

E as pessoas deixam-me assim,
e não sabem que fico fora de mim,
longe de alma pura,
dor ardente, 
desejo de sofrer, longe delas.

E mais um dia passou,
e mais uma pessoa me magoou,
na ignorância está ela,
na mágoa estou eu,
porque o meu coração fraco é,
e ingénuo continuará a ser.

Desliga das pessoas venenosas,
alminha,
e aprende a sorrir ao espelho.