sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Bom Natal, senhor

Véspera de Natal. Ainda nem dez da manhã são e já estão pessoas a encher as ruas à espera que as lojas abrem, aqui na Rua Garrett. Também faço parte desta multidão que aguarda pelo início da atividade comercial, porém, eu aguardo para ir abrir a loja e passar as próximas horas a tentar vender o máximo que possa. Tornei-me mais uma marioneta do sistema capitalista e materialista. Entristece-me, mas preciso de o fazer. Hoje, dia 23, enquanto aguardava, oiço uma voz a desejar-me um Feliz Natal. Será para mim, penso, não deve ser ora essa. Desvio os olhos do meu livro e vejo uma mão envelhecida estendida na minha direção, um sorriso sincero e olhos brilhantes. Senti uma explosão no coração por esta pequena simpatia, tão simples, mas tão carinhosa. Obrigada, igualmente, senhor, respondi eu, com a voz e expressão mais simpáticas que a minha pessoa conseguiu transmitir no agora. E é agora meia-noite, e ainda me lembro do toque da mão suave, e do rosto generoso. O Natal é isto. Não são os clientes que vêm à minha loja, desesperados e sem ideias do que oferecer para os filhos, netos, primos e tios. O Natal é sorrir, é abraçar, é simplesmente, expressar, e sermos humanos. E hoje apeteceu-me gritar, BOM NATAL, pelas ruas da Baixa e do Cais do Sodré, passar pelas pessoas, sorrir e desejar um Natal cheio de abraços, de mãos dadas e beijos. Não quero prendas. Não são as prendas que demonstram o amor, o afecto, mas sim o olhar, o abraço quente, as palavras carinhosas. Nada mais importa. Quis partilhar este momento que me aqueceu o coração e a alma este Natal, e como completa me senti neste dia. Obrigada, caro senhor, que o Natal lhe sorria como o senhor sorri.
A minha vida tem sido esta monotonia constante. Trabalho, casa, tentar preencher espaços vazios com pequenos prazeres, mas tudo se resume a esta palavra - monotonia-, que tanto me assusta. No entanto, não consigo fugir dela. Espontaneidade está longe de ser uma característica minha. Aventura também não faz parte de mim. Talvez, mas em pouca quantidade. Tenho pena, tanta pena, ter um corpo que aprisiona os desejos da minha alma.Ou o contrário? Não sei, nunca saberei provavelmente. Enerva-me profundamente ser assim, tão aprisionada a esta a realidade, não conseguir fugir dela, não conseguir saborear o mínimo de liberdade. Como me aterroriza o facto de talvez nunca o conseguir. A mudança sempre me assustou. Desde criança que a mudança me causava uma dor enorme no coração, porque amava a rotina, o normal. Que coisa horrível, esta! Sei que hoje é diferente. A mudança já é bem-vinda, lentamente. Coisas novas são calorosamente abraçadas, mas não as consigo encontrar, não tenho forças. E aqui estou, sentada nesta cadeira que me é tão familiar, a fazer o mesmo que fiz ontem e na semana passada. E os dias não acabam, nem a minha tristeza perante à realidade em que me encontro presa. É uma questão de hábito, tudo se torna um hábito, um puro aborrecimento de alma e espírito. Mas vivo. E assim continuarei, a respirar este ar sufocante que me mata lentamente por dentro.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Com os pés sobre o Tejo,
alma mergulhada,
e corpo sereno.
Observo eternamente
a calma da existência,
e a profundeza do eu,
que encontra no fundo deste rio.
Vejo a vida a passar-me ao lado.
Passo horas infinitas sentada nesta cadeira.
Observo as centenas de caras que passam por este corredor, tão perto de mim, e imagino-me entre elas.
Imagino-me feliz, completa, ocupada. Imagino-me comum, banal, como eu tanto gostava de ser. Como eu gostava de estar entre esta multidão de gente, a fervilhar de pensamentos superficiais, a fugir da instropeção e auto-análise que este tempo morto me traz. Livrar-me deste estado permanente de constante estagnação perante a realidade em que vivo.
E as horas passam, os dias, as semanas, e nada muda.
Continuo aqui sentada, mergulhada em pensamentos,
impossíveis de me libertar.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Ando exausta. Simplesmente cansada. Não tenho tempo para pensar, para desfrutar da minha presença. Enquanto escrevo isto, fervilho de matéria para um frequência, nem sei como o meu cérebro arranja palavras no meio da confusão em que se encontra.
Mas não consigo sentir nada.
Não sei quem sou.
Passo horas a olhar o vazio, em branco.
Porque não tenho tempo. Não consigo pensar em concreto no que me está a acontecer.
Tudo gira à volta do trabalho, da faculdade. E chego a casa, com dores nos pés, saturada fisicamente, que me tem matado aos poucos o meu psicológico.
E começo a sentir na pele a conformidade. Que diabo me foi atingir! A conformidade! Parar, estagnar, ficar aqui, não querer nada, não sentir nada.
Preciso de parar.
Preciso de me reencontrar.

Crescer é isto?
Abandonar o que sou? Fingir?

A minha criatividade morre aos poucos,
Não me morras.
Leva-me.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Não compreendo esta ideia superficial de que tudo é substituível.
O teu cão morreu? Então, compra outro.Só a ideia de comprar animais já me é inatingível.
O teu namorado acabou contigo? Há mais peixes no mar. O quê? Isso é suposto consolar-me? Comparar ser humanos a peixes é bastante razoável e tudo.
Nunca entendi.
Esta ideia de substituir ser normal, ser uma regra. Que o que morre, é substituível, a vida continua. A vida continua, mas o que morreu, morreu, morreu em mim, em nós, transformou-se num vazio na minha alma, que ninguém, nada vai substituir.
Ficaria extremamente triste se as pessoas que amo pensassem que alguma vez as poderia substituir. Nunca. O amigo, o namorado, esses rótulos são palavras vagas. Somos tão densos, tão intensos.
As pessoas vão e vêm, é verdade, mas o que foi, não volta. E vamos procurar sempre o que foi perdido, e vamos achar que foi substituído pelos sentimentos que nos suscitam. Mas não. Cada pessoa é constituída por mínimas características que a definem, que nos fazem amá-las assim. Que não existem noutra pessoa. E é esta a magia das pessoas. Nada mais.