domingo, 31 de julho de 2016

As pessoas tornam-se fotografias numa pasta esquecida no nosso computador.
E, quando a dor aperta,
queremos visitar essas fotografias,
para abraçá-las de novo,
a dor aumenta.
Elas não existem mais.
Apenas caminham e pisam o nosso coração,
outrora delas.
Lembramos o que elas foram,
mas não sabemos o que elas são hoje.
E as fotografias fazem-me pensar,
fazem-me sentir,
o amor que senti no passado por elas,
que também já não existe.
Nem eu existo nessas pessoas.
Também sou uma pasta esquecida,
misturada num presente e num futuro,
que hoje não pertenço.
E caminhamos em caminhos opostos,
e as nossas mãos não se tocarão,
mas lembro-me da suavidade da tua pele,
e lembro-me do teu afecto,
e sei que um dia as nossas almas dançaram
esta noite chuvosa.
Mas os beijos não duram para sempre,
muito menos as danças,
então, recordemos esses dias com amor.
E levemos esse amor no caminho árduo,
que é a vida,
esta vida que a cada dia me come mais um pouco a alma.
Mas sorrio,
sabendo que a minha alma foi uma vez tua,
e a tua minha,
e que o amor existiu e esse nunca morre,
e que um dia,
não tive motivos para ser só solidão.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Basta-me

(texto escrito na praia)

Escrevo enquanto oiço as conversas entre as gaivotas, as ondas umas contra às outras e a nascente do rochedo. Como as palavras se tornam insignificantes aqui! Não, não quero ouvir palavras, não preciso delas aqui. Tenho o mar, tenho as rochas, tenho as gaivotas e ainda o barulho da minha mente, que tanto me atormenta, oh, mas quando ela desliga! Fico eu e a imensidão selvagem da natureza. A pureza da vida. Eu, ser humano insignificante, a sentir a areia na pele e o mar na minha carne e mergulho, mergulho eternamente nas ondas que me querem levar com elas para a sua profundeza, mas eu quero vida. Quero viver, quero sentir, sentir tudo a viver. Quero ouvir todos os mares desta existência. Que minúscula sou! Que coisa insignificante nasceu. Existo apenas para ver isto? Como isso basta! Nasci para sentir o mar, para ouvir as pedras, para engolir palavras. Ah! Como isso me basta!

Ondas

Respiro estas ondas
que um dia me tentaram
levar a alma,
mas delas só levo,
o poder da vida.

                                   (o meu irmão a aventurar-se nas ondas selvagens)

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Querido,
não me recordo
se palavras de agradecimento
me saíram da boca
quando me beijaste de adeuses
e os teus olhos brilharam
da tristeza do fim.
Porque o teu amor
foi uma flor que cresceu em mim,
que não murcha,
e que mesmo na tua ausência,
continua a florescer.
Será ainda a inconsciência do teu desaparecimento?
Ou o teu amor foi, e é,
o curativo para a minha alma?
Só responderei
quando ouvir a tua voz,
só mais uma vez.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Coração Cheio

Ternura
é quando a minha mãe
chega do trabalho,
às sete da noite,
a coxear de cansaço,
e faz um bolo de amor.
Carinho,
é quando o meu pai,
me abre as persianas,
logo pela manhã
para me dar um beijo
na bochecha nua.
Amor,
é quando o meu irmão
abre a porta do meu quarto,
a horas más,
e pergunta-me "Queres jogar alguma coisa?"

Cresci rodeada de sentimentos cheios.
Se família não chega,
não sei que mais posso desejar,
se este amor não há maior.
Cresci de coração mimado,
com sorrisos rasgados,
e lágrimas secas,
sempre a transbordar
de gestos de amor.

Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain

Depois de ver, mais uma vez, este filme maravilhoso, a vida de Amélie, não pude privar-me de um momento criativo. Não traduzo o que escrevi neste desenho, para vos dar trabalho e ir ver este filme, que está na minha lista de preferidos e de filmes de uma vida. Vejam!

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Não sei viver

Finalmente, conclui a minha existência:
Não sei viver.
Não sei viver, mãe.
Escondo-me nos lençóis,
Aqueço-me nas mil histórias
que os livros me contam.
Vejo os mesmos filmes,
repetidamente,
infinitamente.
Isto não é viver.
Eu não sinto.
Não sinto nada.
Apenas preencho este vazio
de não saber viver.
Só queria ter coragem
de agarrar uma mão que não a minha.
Só queria ter forças de soltar palavras,
mas tudo se me prende na garganta.
Os meus ossos são de vidro.
Pára, cérebro, pára!
Liberta-me!
Liberta-me deste peso de ser quem sou.
Larga-me de pensamentos, de complexos, de constrangimentos.
E deixa-me viver

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Sem certezas

Acho que me cansei de erguer a voz àqueles que não querem ouvir.
Acho que desisti de dar o meu tempo àqueles que o desperdiçam.
Acho que me perdi quando senti aqueles que não me sabem sentir.
E, aqui estou, a escrever neste papel gasto que se rasga com a minha tristeza, com a minha melancolia, de este cansaço de sentimentos.
Invejo a ausência das emoções exaustas. Como seria se me fosse indiferentes um simples gesto! Para quê complicar, coração! Para quê chorar. Sentir demasiado é sofrer em demasia.
Se tudo me fosse simples,
como grãos de areia,
a felicidade seria tão mais fácil de alcançar. Mas dissipa-se por entre os meus dedos.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Passado eterno


Uma pequena pintura feita com acrílicos em papel formato A2, acompanhado por um texto.

Recordo o
passado
que nos
era eterno.
Agora é um
vazio da tua
ausência e
sussurros da 
tua voz, que o
tempo
apagou
da 
minha
memória.
És apenas
uma
recordação
em cacos
no meu
coração.







segunda-feira, 11 de julho de 2016

Experiências Fotográficas

Algum aborrecimento e fim de um livro resultam de uma experiência fotográfica realizada no momento da reflexão do post anterior, relativamente à Sombra. Aproveitei o sol a bater na minha janela e brinquei com gestos.









Esboços de Sombras


Umas página que refletem um momento criativo e de reflexão, com o tema A Sombra, há-de se lá saber porquê, são coisas que me passam pela cabeça nos momentos vazios, enfim. Estes pequenos textos não me orgulham, mas quis partilhar.

Poema na primeira página

A sombra do meu ser
torna-se nítida quando me aproximo
que quer isto dizer.
Se me afasto, sou uma mancha.
Que me queres dizer, sombra?
Se, de perto, os meus defeitos clarificam-se,
nasce ódio.
mas de longe, sou impercetível.

(alterei algumas palavras quando reli os rabiscos)

Poema na segunda página

As sombras que me assombram
sempre que quero dar mais um passo.
Quero estar só,
mas olho e lá estás tu,
a ver-me, a sorrir-me, a seguir-me.
Por favor,
larga-me.
Não preciso mais de mim,
eu basto-me.
Se não tenho amor para mim,
muito menos para ti.
Eu não preciso de ti,
sufocas-me,
com essa escuridão.
Larga-me!
Se eu acabar comigo,
ainda me seguirás?

(também com algumas alterações)





segunda-feira, 4 de julho de 2016

O meu corpo

Quem disse
que corpo é um túmulo,
o máximo que podemos
entregar a alguém ?
Que coisa estapafúrdia é essa.
Nada é mais fácil
que tirar a roupa
e mergulhar
num corpo estranho.
O mais difícil
é tirarem-me a pele,
e descobriram-me o universo.

sábado, 2 de julho de 2016

Nos livros

Tu lês,
as palavras que não
me saiem da boca,
mas as que se expressam
e dançam no papel.
Abraças as folhas,
cheiras as letras.
Que belo é,
conhecer-te num livro.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Amor de Perdição: Teresa e Mariana

Teresa e Mariana, ambas loucas de amor pelo mesmo homem, uma amada, outra adorada. Que dor senti ao vosso infortúnio!
Teresa, que amas loucamente, que renuncias o teu nome, a tua família, para abraçares um futuro feliz, nas águas do Mondego, de mãos dadas com o teu amado que tanto te estima. Mas, ó querida, que amor impossível esse! Apenas sonhos agoiros de uma jovem de 18 anos. Mas, tu, Mariana, o teu amor é tão belo, que doce almas és, Mariana! Limpaste as lágrimas, ouviste amargas palavras que saiam da boca do teu amado que ama outra, e mesmo assim, entregaste os teus desejos e sonhos, o teu amor, a um cadáver que morreu por outra! Tu, linda Mariana, sentiste o verdadeiro amor, Morreste por um homem que nunca te amou, mas ele queria, ele sabia de todo o teu amor, da existência dessa alma superior a todas, mas os sentimentos são inexplicáveis, são irracionais, Mariana. Só querias o teu amado feliz, e amaste sem medo, sem ciúme, sem inveja. E morreste com ele nos braços, e ele morreu da febre do amor, mas não por ti, foi por Teresa, e tu sabes disso. O que tu sofreste! Como eu lamento, Mariana, como eu lamento a tua infelicidade, a tua ingenuidade, a tua loucura, mas também a tua força.Tenho tanta pena do teu sacrifício por um homem que nunca o faria por ti,mas tu não sabes o que isso é, só sabes o que é o amor na sua totalidade, não amas pouco, não amas metade, amas tudo. E agora estás morta, agora respiras água e estás sozinha. Como eu lamento.


(um pequeno texto/review sobre o livro Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco)