domingo, 24 de setembro de 2017

A poesia abandonou-me. Procuro-a nas árvores, nas folhas caídas, no som do vento e do mar. Encontro-a, mas não a sinto. Não lhe consigo tocar.
Já faz tempo que não choro só de olhar o mar.
Tenho saudade de sentir o simples milagre da vida, da existência, de ver tudo isto, de pensar que tudo isto existe, porque eu existo. Faz isto algum sentido?
Que sou eu?
Ando de lá para cá, tentando apaixonar-me por coisas simples, quando eu sou tão complicada e confusa? Que procuro eu, mesmo?
Outrora encontrei a felicidade, penso eu. Doía-me o peito, mas sorria tanto. Doía-me o peito de tanto amor ter dentro de mim. Para onde foi esse amor? Para onde foi toda a paixão? Ficou nos papéis em que tentei descrever e materializar todos os sentimentos que passaram por este corpo? Porque tento eu materializar tudo, querer por em palavras, o que não é descritível por elas? As palavras são tão limitadas, porém, tocam-me tanto, são-me tudo. Sem palavras, tudo é irreal.
Sem palavras, não existiria.
Nada existiria.
magníficos campos franceses!
a saudade que tenho no peito,
dos tons de verde,
do cheiro dos girassóis,
de pousar a cabeça sobre as plantas,
e chorar nos vossos rios,
até as lágrimas se fundirem no verde sujo,
e eu cegar de amar a luz do sol

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

danço freneticamente neste bonito pôr-do-sol.
rodeiam-me rostos familiares, mas não reconheço as suas vozes.
não me interessa.
só quero dançar, deixa-me dançar.
gostava de desligar, de vez em quando, os meus olhos que buscam todas as formas que consegue captar.
e o meu corpo quer seriamente dançar, pára de observar.
mas...e se olham para mim? e se perco um belo par de olhos?
nada interessa.
nada me interessa sem ser este breve instante frenético de dança.
dou-lhe a mão e o meu corpo liberta-se ao som da música.
dá-me o braço e dançamos juntos, todos.
rir, rir e dançar, para tudo esquecer.
não interessa quem me rodeia.
a vida é só minha.
todos se esquecem.

domingo, 3 de setembro de 2017

(escrito em França)

Tão diferente, mas tão igual.
Sinto-me leve, distante, como se não fizesse parte de lado algum. Caminhando sem apego, sem casa. Olho para estes campos, tentando não compará-los aos da minha terra, mas são incrivelmente parecidos. No entanto, dão-me outra sensação, aliás, várias sensações que a minha terra não me dá. Mas são iguais. Está tudo na minha cabeça. O mundo acaba por ser tão semelhante. Tudo o que muda está no meu peito.
Entristece-me porque vou ficar feliz por voltar à minha terra. Como se toda a minha identidade está lá. Somos terra, basicamente.
(escrito em França)

Dói-me a cabeça, os braços, os olhos quando penso em toda a existência. Uma dimensão enorme que me é totalmente desconhecida. Procuro viver os dias como se estes nunca acabassem, como se a mudança não fosse a ordem natural das coisas.
Depois, penso que um dia as minhas pernas me vão falhar, os meus braços não vão responder de imediato ao meu cérebro e os olhos me vão cansar. Um dia, fartarei-me de viver. Que dor me dá só de pensar nessa triste realidade. Desejar morrer porque me cansei de viver. Como é que isso é possível? Porque o corpo não nos permite mais, mas e se a cabeça tiver toda a vida dentro dela? A imaginação foi sempre a minha solução. Ou talvez, a cabeça também se canse e deseja também deixar de viver. Que pensamento atroz este!
Gosto tanto de viver, mas tenho vontade de chorar, pois nada dela eu sei. Vivemos e pronto. Não façamos perguntas, vivamos as respostas. Pois a resposta que me dão é sempre a mesma. Vive somente, não te preocupes, não penses.