quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Uma carta a um estranho

(não é da viagem a França)


Querida senhora que me pôs a sorrir quando a minha vontade era de gritar e chorar. Não lhe passará pela cabeça o quão o seu sorriso e olhar carinhoso me alegrou o dia. Pôs-me a pensar, senhora. Acordei feliz, a vida dá um pontapé em todas as minhas alegrias, para me deixar em lágrimas e em stress constante. E corro, e resolvo, e grito, e fecho a mão num punho e os olhos para guardar toda a raiva dentro de mim. Um fogo dentro de mim pronto a explodir. Perdendo a fé na humanidade, que a bondade escasseia nos corpos que encontro e eu queria mesmo abraçá-los e dizer-lhes que não estão sozinhos, que nos amamos todos. Não, não, nada disso. Espera, sofre, não me interessa. Até encontrar a senhora que pedia ajuda, sorriu, levou as mãos ao peito e olhou-me carinhosamente e agradeceu, genuinamente. Até me vieram lágrimas entre o sorriso. Há tanta beleza no mundo aí. Obrigada senhora, não esquecerei o seu rosto, os seus olhos azuis cheios de amor e incerteza e nunca saberá o quão feliz me deixou e me influenciou.
 Bonito isto de nada sabermos que impacto temos nas pessoas. Achamos que somos apenas pó e as pessoas ouvem e esquecem todas as nossas palavras. As pessoas lembram-se. Como me posso esquecer de um sorriso que me fez sorrir também, numa altura que tudo fazia sentido?

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Sala cheia

De novo silêncio.
O silêncio mais belo.
Até mais belo que o silêncio entre amantes. É um silêncio para as pessoas, as centenas que aqui estão sentadas. Aqui somos livres de pensar. E ninguém pergunta.
Ninguém pergunta em que penso, no que escrevo, no que sinto, porque sorrio. Cada um está só, agora. Todos juntos para o silêncio. Todos sós num grito que só nós ouvimos. Quão belo é isto?
Os nossos pais, amigos, amantes, perguntam no que penso, no que quero fazer. Aqui, olhámo-nos, sorrimos e abraçamo-nos. Trocamos ideias, crenças, experiências. É só isto.
E depois, voltarei para o silêncio das minhas quatro paredes, ouvindo apenas os passos do gato e ouvindo os carros pela janela do meu quarto.
Todo o meu silêncio ficará aqui.
Levo comigo a sensação do silêncio, mas ele fica aqui como é, inaudível, sereno.

É um silêncio que me deixa calma. Até me dá para escrever. Será silêncio então?

Adorada França

Em julho, passei uma semana numa comunidade autossuficiente em França, onde conheci os belos campos franceses. Nesse local, tão mágico e belo, muita coisa foi sentida e transcrita para o papel. O que se seguirá são as palavras que resumem, muito vagamente, a intensidade de sensações que vivi.



Estranho como as fronteiras me iludem a vista. Os campos aqui têm tons e cheiros que não existem no meu país. As árvores têm outros sussurros, a sensação de vida é outra. Sentirei saudade de aqui? Que limites nos dão os muros ilusórios? É tudo apenas isso, uma ilusão. Está tudo dentro de mim. Os são campos são igualmente verdes, tão iguais aos verdes do Minho.