quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Sobre o peso



Vivo numa leveza pesada.
Sinto-me leve, serena, mas há um peso que não me deixa viver completamente e sorrir sem depois chorar.
O peso do tempo, o peso do amor, o peso da partida, o peso da mudança. Tudo tão leve, na verdade, porque são as verdades imutáveis da vida. E eu, ser vivo neste planeta, não consigo contornar estas ubiquidades. Estão sempre aqui, lá, acoli, e eu não posso fugir. Os dias vão passando e a mudança virá, como uma onda que me leva para outra margem, ou para me afogar, de vez. Sinto-me leve e frágil perante estas mil ondas que me deixam sempre ofegante e em desespero. A angústia consome-me.  O peso esmaga toda a minha leveza. Como uma pena, escrevem-me na areia, enterram-me, atiram-me ao ar, e voo, voo, e não volto. Mas eu só quero voltar. Só quero voltar a sentir o amor, o toque das tuas mãos sobre a minha pele fria. Só quero voltar ao abraço da minha mãe. Só quero voltar à casa lá no sul do país e apanhar caracóis no quintal entre mil e um risos de crianças. Só quero voltar a sentir a plenitude de um ser harmonioso. Agora há sempre fantasmas, fantasmas com corpos, que se deitam sobre mim enquanto durmo, e acordo sempre pesada.  O agora será outro agora amanhã. E não sei se será mais leve, ou mais um peso se deitará sobre mim

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