domingo, 6 de janeiro de 2019

Mais uma texto sobre o tempo

22-11-2018

Enquanto escrevi esta data, um pensamento veio-me à cabeça, que me faz doer as orelhas. Um pensamento que, na verdade, nunca me abandona. está sempre cá, a assombrar-me os gestos, mas de vez em quando vem com esta sensação que me faz doer o corpo. Esta verdade absoluta incontornável e dolorosa. Que o tempo me engole todos os dias e logo eu, que tento agarrar cada momento e mantê-lo assim, nos meus braços. Um dia vou reler este texto, que escrevi com os meus tolos 21 anos, com cabelo grisalho e rugas no rosto. Porque me aflige tanto? Porém, pergunto-me, onde estarei, o que terei, (com) quem serei. Terei-me encontrado? Serei um ser cheio?
Estranho, porque iria começar este texto na tentativa de escrever uma sensação maravilhosa, uma sensação de um todo, de uma harmonia total. Esta sensação de não ter medo, em que o meu corpo harmoniza-se com o que me envolve. Aquela voz que me sussurra, que me incomoda a todo o instante, desaparece, dando lugar apenas ao esplendor, à observação, ao sentir. Parece que o meu ser desaparece, ou intensifica-se. Não sei ainda, não sinto isto assim tantas vezes para chegar a uma conclusão satisfatória e verosímil. No entanto, sinto-me bem. Mas rapidamente fico mal. Basta escrever a data de hoje para sentir todo o peso do tempo para esta bela sensação desaparecer. E logo um pensamento que esmaga o meu ser, como uma mosca, das várias que já esmaguei com a palma da minha mão. Eu sou o tempo para uma mosca, e sou a mosca.
Porque é que as pessoas se vão embora? Porque é o tempo as leva de mim? Como é que eu lido com o que elas deixaram? Porque é que há memórias que se tornam num passado distante indiferente, e outras são tão dolorosas.
Escrevo isto enquanto atravesso um país, que pouco conheço, em busca de abraçar um ser humano que não quero nunca perder e criar memórias que, lá está, serão só memórias.

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