domingo, 24 de janeiro de 2016

O Rapaz da Biblioteca

Passei a frequentar a biblioteca da faculdade às quintas-feiras devido ao rapaz que está duas horas mergulhado num caderno, sem largar a caneta, sem levantar a cabeça. Fui lá um dia à procura de um livro para o trabalho de História e reparei naquele corpo triste. Cabelo comprido, curvado sobre a mesa, com uma caneta na mão, a escrever num caderno barato, sem deixar a posição que considerei extremamente desconfortável. Não consegui ver a cor dos seus olhos, com o cabelo à frente, a olhar para baixo. Entre os livros, olhava-o. Não parava de escrever. O que estaria a escrever? Uma história? Um diário? Uma carta? Não sei, nunca saberei. Aquele rapaz tinha mistério escrito na testa. Uma testa tapada pelo cabelo quase preto e brilhante.

Agora, todas as quintas-feiras às cinco da tarde, vou para a biblioteca, ler livros. "Ler", entre aspas. Na verdade, leio uma página, e ficou meio minuto a observar o rapaz, que escreve, escreve. Que ser humano tão magnífico. Onde vai buscar tantas palavras, tanta criatividade. Se conseguisse falar, sentar-me-ia a seu lado, colocava a minha mão na página escrita e faria com que levantasse a cabeça e pudesse ver o brilho dos seus olhos e visionar um pouco a sua alma. Mas não, a minha timidez e insegurança não me permite tal coisa. Portanto, sento-me, a duas mesas de distância à sua frente, e observo-o. Talvez ainda nem tenha pressentido a minha presença, ali, todas as quintas-feiras. Uma presença que o ama sem o conhecer, que o quer abraçar e quer entendê-lo e dar mais do que as palavras lhe podem dar.

Já passaram dois meses destes encontros fantasiosos na minha cabeça. Eu continuo a sonhar. A sonhar que ele levanta a cabeça e me olha nos olhos e eu consiga finalmente ver a cor dos seus olhos, o seu brilho, compreendê-lo.

Sem comentários:

Enviar um comentário