domingo, 17 de janeiro de 2016

Essa música que era só nossa


Oh meu piano, estás a apanhar pó. Há muito que os meus dedos estão ferrugentos e lentos, já não o que eram. Lembraste, meu piano? Como eu tocava Chopin e Mozart? Lembraste daquela parte da Marcha Turca, que eu tocava tantas vezes que até desligavas, estavas tão farto, eu sei, desculpa, eu gostava tanto de te tocar, mas tocava com tanta força que fiquei cheia de tendinites e tu com teclas doridas. Oh meu piano, desculpa desculpa, sentes a minha falta? Eu sinto a tua. Mas eu acho que não sentes a minha. Fiz-te sofrer tanto. Viste-me chorar e a tocar com raiva, aleijei-te não foi? Oh meu amor, desculpa, agora sempre que te toco, foges. Os meus dedos já não te fazem sentir nada, já não és o que eras, o teu som está tão distinto, oh meu querido, que saudades. Mas continuo a amar-te tanto, como da primeira vez que te vi e da primeira vez que te toquei. Fiquei tão feliz quando vieste cá para casa, eras só meu, só meu! E eu toquei-te tanto, entrelacei tanto as tuas teclas, brancas e pretas, todas estiveram nos meus dedos. E agora estás aí, silencioso, quieto. Há tanto que não vejo as tuas lindas teclas, teclas que eu tão bem conheço. O amor dói tanto! Ai meu piano, meu amor, meu bem, o teu silêncio é a minha maior dor. Volta, amor, volta. Volta a cantar, a sonhar, esses teus sonhos só meus, essa minha música que era só tua.




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