-A felicidade não existe. Nós julgamos que sim, buscamo-la a vida inteira, mas ela não existe.
-Então porque a procuramos toda a vida?
-Já te disse, não ouves? Nós achamos que ela existe.
-Oh, eu acredito que sim.
-Porque acreditas que sim? Em que fundamentas? Já conheceste alguém feliz?
-Não sei. As pessoas não andam propriamente para aí a dizer que são felizes!
-Claro que não. A felicidade está nos atos.
-Uma pessoa não vai andar no meio da rua a sorrir do nada, ou a dançar, não é!
-E porque não? O que há de errado nisso?
-Não é algo que se veja, sei lá, é esquisito. É de loucos!
-É por esse pensamento que a felicidade não existe. Não podemos fazer o que queremos, apenas fazemos o que devemos, o que nos dizem para fazer. Somos fantoches, sem vontade própria. Numa agonia silenciosa.
-O que estás para aí a dizer? Estás maluco ou quê?
-Talvez esteja, ou somos todos. Enfim, ilude-te.
-Se a felicidade não existe, porque vivemos?
-Não estás a perguntar corretamente.
-Mas foi isso que afirmaste. Que a felicidade não existe.
-Talvez exista, mas é inconsciente. E nós não somos inconscientes, somos tremendamente lúcidos, questionamos tudo, logo, é impossível sermos felizes.
-Não estou a conseguir seguir o teu raciocínio.... E se amares alguém loucamente e fores correspondido de igual forma? Ou fazeres o que adoras e viveres confortavelmente disso? E teres filhos e conseguires viajar. Isso não é felicidade? Afinal, é o que procuramos todos, uma vida, uma família. Logo, é felicidade.
-Aí é que enganas. Desde quando a rotina é felicidade? E dar a minha vida a outros? Não. Não vou ser feliz por formar uma família e ter um bom emprego. Essa é a mais triste das tristezas. Conformar-me a uma vida confortável. Isso é que é de loucos.
-Bateste com a cabeça nalgum lado só pode.
-Ou então batemos todos quando nascemos, porque estamos tão iludidos. Formatam-nos o cérebro durante 12 anos, tenho de me matar a estudar na faculdade, depois casar. Não vejo nada de feliz aí.
-Mas, outra coisa que disseste à bocado...se a felicidade é inconsciente nunca nos apercebemos que somos felizes...
-Pois não. Mas tu sabes que foste feliz, em criança, não sabes? Porque as pequenas coisas, a quebra da rotina, rir sem razão, era a felicidade. E pode ser, se não tivermos obrigações e deveres. Se formos verdadeiramente livres, podemos ser felizes. Eu só queria ser livre.
-'Tás doido. Anda mas é comer e deixa-te de paneleirices e filosofias inúteis.
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