No dia de Mulher, eu não quero flores. Não quero abraços, não quero beijos, não quero atenção por ser Mulher. Deixem-me em paz, eu não pedi para nascer com a fisionomia feminina. Não preciso de um dia para me darem flores e por me darem os parabéns. Porquê? Por ser mulher? Eu não estive naquela fábrica onde morreram 130 mulheres a lutarem pela igualdade. Eu não luto pela igualdade. Eu não pertenço a este dia. Não mereço nada. E não é por ser mulher que mereço um dia para me beijarem. Não quero nada disso, nada disso me faz sentido. Este dia até me faz sentir inferior, insignificante, um ser secundário. "Oh querida toma lá uma flor, és mulher", opá, não me lixem!
Este dia deve ser uma reflexão sobre a desigualdade de géneros, não um beijinho à mãe por ser uma mulher forte. Não é isso que consiste este dia. Este dia é para nos lembrarmos que ainda há raparigas que se casam aos 10 anos, que há mulheres que não podem mostrar o tornozelo na rua, que não podem andar sozinhas na rua, e que são consideradas propriedade dos homens, É para nos lembrarmos que não vivemos num mundo de flores e borboletas e fadas de pó mágico e que aqui estou bem porque consigo estudar e ter uma vida digna. Mas e lá fora? Se eu tivesse nascido nesses países, provavelmente estaria agora casada, com sete filhos, e proibida de sair de casa sem estar de braço dado com o meu marido. Isto sim mete-me nojo! É para isto que deve ser o dia da mulher. Um dia para termos consciência que uma mulher tem medo de andar na rua à noite, tem medo de usar saias, tem medo de ser segura do seu próprio corpo.
Portanto, não quero flores. Quero poder vestir o que me apetecer, fazer e dizer o que eu quiser, poder andar na rua sem medo de olhares alheios, bocas ridículas e saber que posso ser livre de mim, digna de tudo, com todos os direitos a que tenho. E ser mulher não é ser um ser forte, um ser bondoso, uma mãe, uma filha, uma tia. É ser livre e poder saber que não precisa de um dia para se lembrar disso. Para que não exista um dia da Mulher, mas que exista um dia da Igualdade de Géneros, um dia para nos lembrar que temos de lutar por todas as mulheres que não têm liberdade.
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