Digo-te adeus, cidade, que me acolheste na tua beleza e encanto, mas agora parto para a minha terra. É terrível pensar que temos de ter uma casa, no sentido de um conforto, um sítio para me recuperar, para me aconchegar. E, com este pensamento, sinto-me uma estranha em ti, querida cidade. Nunca serei tua, nunca me acolherás por completo em ti, e eu compreendo, porque não nasci. Nasci noutra terra, noutra língua, noutra cultura, com outros tons, outros olhos, outras feições e nunca serei como os teus. A culpa não é tua, não é minha, não é de ninguém. É assim que a vida é. Sou obrigada a ser natural de algum lado, não posso simplesmente dizer "sou do nada", "não tenho nome, não tenho casa". Preciso de um nome, de uma casa, de um cartão, para ser alguém. Sendo assim, nunca serei tua. Por mais que ame o teu chão, as tuas paredes, a tua arte, o teu amor, e por mais que te conheça, nunca afirmarei que vim de ti, porque não vim. A minha casa é outro cidade, outro chão, outra vida. E tudo isto foi irreal, não aconteceu, isto foi apenas um amor de verão, que em breve será esquecido, como o vento do final da tarde que abafa a roupa estendida. E em breve esquecerás que os meus pés pisaram o teu passeio, que os meus olhos viram as tuas estátuas, que a minha boca bebeu o teu vinho, o teu café. Tudo será esquecido, tudo foi um suspiro de um segundo, uma paixão breve, uma picada no poro que doeu intensamente, mas logo passou. E, com toda a minha tristeza, digo-te que te amei com todo o meu ser e respirei todo o teu ar, mas está na hora de voltar à minha calçada, ao meu café, ao meu apartamento simples, e resignar-me a este pequeno amor que tenho no coração. Tantas saudades que terei tuas, oh cidade grandiosa, e como feliz me sinto por te ter conhecido. Estarás sempre dentro do meu ser, até ser pó e cinzas.
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