(depois de ver um filme biográfico de Jane Austen, escrevi isto)
Estranha coisa esta de me apaixonar por histórias e por personagens imaginárias e torná-las na minha realidade, senti-las dentro de mim como um aperto quente. Se calhar é a minha única maneira de conectar com o real, imaginando-o, apaixonando-me por pessoas que não existem e viajar dentro delas, conhecendo-as profundamente, compreendê-las. Fecho-me do mundo nestas quatro paredes, abro um livro, e a magia acontece em mim e no espaço. E é assim que vivo, que sou feliz. Mas, de vez em quando, tomo consciência de que tudo isto é irreal, só eu existo, e estes móveis e objetos que me rodeiam, estas histórias, estas pessoas, estas paixões, são apenas preenchimentos ao meu vazio. E essa tristeza abate-me. Tantas personagens que fazem parte de mim, que, de facto, parece que consigo ter conversas intermináveis com elas na minha cabeça, compreendo-as, compreendem-me. Mas é uma ilusão. E o pior é quando encarnam essas personagens em filmes, ainda mais reais ficam e mais afeto nasce em mim. Que coisa caricata. Ilusão do real, imaginar o real, que paradoxos, ou não? Como se o real fosse uma coisa objetiva, absoluta, credível. Apenas cada um tem a sua maneira de viver. O que pensou Oscar Wilde ao dizer que apenas existimos, não vivemos? As pessoas vivem de acordo com os seus gostos e perspetivas. Lá por amar histórias fictícias e chorar por vidas inexistentes e isso fazer parte do meu viver, não vivo realmente? Apenas existo? Isso não me faz sentido, perdão Mr.Wilde, o viver é subjetivo e um conceito demasiado amplo para catalogar as pessoas. Mas compreendo a frase, só é somente uma perspetiva, não uma conclusão verosímil. Sinto-me completa e viva às vezes, outras vezes sinto-me vazia, sinto que falta qualquer coisa. Não é normal? A felicidade não existe, não me venham com tretas, a vida é repleta de emoções e estados momentâneos. Bem, sinto também que já estou a divagar e a fugir ao assunto, como sempre. Não pensem se estão a viver a vossa vida como deve ser vivida, isso não existe. São as nossas vidas, e a vida é a provavelmente a única coisa que podemos assumir como nossa, portanto, façamos o que quisermos com ela.
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