Estreou no dia 22 de Setembro o novo filme de Almodóvar, Julieta, e tive a disponibilidade de o ver.
Já me tinham dito que os filmes de Almodóvar são extremamente humanos, que retratam a fraqueza humana, e gosta muito de mulheres, tenta compreendê-las. E o filme é, precisamente, sobre uma mulher, Julieta, e sobre a sua vida, repleta de morte e consequente dor.
O filme começa com uma mulher chamada Julieta, na casa dos 40/50 anos, bonita e misteriosa, mas aparentemente feliz, pronta para abandonar Madrid e começar uma nova vida em Portugal com o companheiro. Porém, ao encontrar alguém do seu passado, ela muda de ideias. Fica em Madrid, e até muda de casa, uma casa também pertencente a uma vida antiga, e aí começa a analepse, quando escreve uma carta à sua filha, Antía.
Aparece uma bela mulher, a jovem Julieta, num comboio para Madrid substituir uma professora, para ensinar Literatura Clássica (sobe logo vários pontos na consideração do visualizador, claro). Um homem já com alguma idade senta-se à sua frente e tenta falar com ela, mas, como qualquer mulher, não gosta de ser abordada por um homem mais velho com um extremo interesse em falar-lhe. Então, ela ignora-o e abandona o seu lugar. E conhece o jovem Xoan, um pescador.
O comboio efectua uma paragem, e vários passageiros vão "esticar as pernas", mas Julieta fica no comboio. Quando o comboio inicia novamente a viagem, o condutor efectua uma paragem brusca. Alguém se matou, atirou-se para a linha do comboio. O homem que tentou falar com Julieta. E, a partir daí, a dor, a morte, a culpa, assombra-a.
Julieta e Xoan começam um relacionamento, tendo nascido desse amor, Antía. Aparentam uma vida feliz, até Julieta descobrir a infidelidade de Xoan, e depois de uma discussão do casal, este ir pescar para a tempestade, e acaba por morrer. Entretanto, Antía estava num acampamento e posteriormente foi para Madrid com uma amiga, sem saber da morte do pai. Julieta, mergulhada num luto profundo e num sentimento de culpa, entra em depressão, e será Antía e a sua amiga, Beatriz, que a ajudarão a cuidar de si mesma.
Mudam-se para Madrid, Julieta e Antía, para Antía estar perto da sua amiga inseparável. Julieta não tomava decisões, a sua apatia ao mundo não a permitiam sentir nada. Há uma cena em particular que leva o espectador às lágrimas, pelo menos a mim levou. Julieta está na banheira, apática, sem focar um ponto, leve de seu corpo, longe deste mundo, características da depressão, e Antía e a sua amiga Bea, tiram-na da banheira com dificuldade. Só de pensar nessa cena, as lágrimas voltam a mim. O amor entre mãe e filha, a ajuda incondicional, mas Julieta era a mãe, e a Antía era quem fazia de mãe, era ela quem cuidava da mãe, sendo esquecida que também ela perdera o pai, sentia-se sozinha, e consequentemente, a mãe.
Antía cresce assim, num lar distorcido, ausente de carinho, de amor, de educação. E, aos 18 anos, pede à mãe para fazer um retiro espiritual, uma experiência normal para um jovem de sua idade.
Porém, Antía desaparece...durante 12 anos.
E o filme é isto, é a dor da ausência das pessoas que mais amamos, sendo nós os culpados desse desaparecimento, sem nos apercebermos dessa culpa. E conseguimos sentir a dor de Julieta, devo dar as congratulações à atriz, Emma Suárez pela sua bela interpretação, que me levou às lágrimas várias vezes durante o filme. Porém, Antía volta a dar sinais de vida. Perdeu um filho e pede desculpas à mãe, que a perda de um filho é a maior dor do ser humano, e nunca pensou que seria possível sofrer assim.
Um filme sobre a fraqueza, sobre a dor, sobre o ser humano. Que será sempre egoísta, sempre uma vítima de um destino.
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