domingo, 16 de abril de 2017

Sentar-me sobre a colina e observar a barragem e as ilhas sobre ela. Pouca intervenção humana observo nesta paisagem. O sol lá ao fundo, a esconder-se nas nuvens e, em breve, nas montanhas e nas águas. As nuvens não vão permitir ao céu assumir os tons alaranjados e rosas que tanto me enchem o peito e me esvaziam os pulmões. No entanto, as nuvens deixam-me ver o círculo perfeito do sol. Que mais preciso? Em nada penso. Minto. Penso nas palavras que podem incorporar a esta visão, este sentimento. Eu transbordo por todo o lado. Mas transbordo o quê? Nada. para que preciso de transbordar algo? Tão simples, tão belo, tão fácil. E passo as mãos pelas flores que estão à minha volta. Olhos os rostos que estão à minha volta, com a mesma expressão que eu. Excepto um. O de uma criança. Ele corre, ele suja-se na terra, ele aborrece-se com o sol. Recordo-me bem que parar era uma seca. Observava os meus pais, os meus tios, os meus avós, sentados à mesa horas infinitas, a conversar ou parados a olhar para o horizonte de uma paisagem e eu, criança, a querer correr e cair pelas ervas. Queria abraçar árvores, queria apanhar borboletas e deitar-me na relva e rebolar-me nela. E agora estava eu, parada, a olhar o sol, as águas, as cores do céu, feliz, a ver-me também refletida no olhar daquela criança que queria correr pelos prados e abraçar ovelhas, mas, sem essa vontade. Apenas com um sorriso nostálgico, com lágrimas dentro de mim, imaginando-me, criança, a correr entre as árvores com os meus primos, de mãos dadas, com risos ecoados pelas ruínas do castelo mouro da vila, escondendo-nos dos adultos.
Agora estou eu adulta. A criança que fui morreu num cérebro ocupado, sem tempo de dançar no meio da rua.

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