domingo, 23 de abril de 2017

Por entre as conversas fúteis e por esta confusão de palavras e sons à minha volta, encontro-me a mergulhar numa água cristalina. Só vejo tons de azul e verdes, variados. Aqueles que vemos quando mergulhamos com óculos de piscina no mar. Mas num mar limpo, limpíssimo. Vejo as bolhas do meu ar, a luz do sol a tentar perfurar o oceano. Quão belo e misterioso isto é. O sol a tentar entrar no mar, mas apenas ficar à tona, pois tudo é escuro, breu. Que mundo será este sobre os meus pés. Um mundo do qual tenho um medo tremendo. Um medo que me faz doer o peito só de imaginar na sua dimensão. Como de quando penso no que vai para além do céu. Como tudo me inalcançável e me escapa por entre os dedos. Volto-me para cima, para a luz, para o confortável. Vejo o céu. Tenho de fechar os olhos devido ao sol. Desliga-se-me a visão. Oiço as ondas, oiço a água nos meus ouvidos. Oiço a água a empurrar as rochas na costa e o vento no meu rosto. Som bem mais belo que aquele que oiço do eco das conchas. Tristemente, volto à realidade. Olho os rostos, que continuam dispersos nas suas conversas que me são indiferentes. Olho em redor. Procuro poesia pelo cenário. Foco-me numa cadeira que estava ligeiramente mais para trás que as outras, numa mesa. E imagino-te lá sentado, com o teu livro do Helberto Helder e a tua cabeça tão perto das páginas, que as palavras se dissipam pelos teus olhos, para cheirar, retirar o odor de toda a poesia. E imagino as tuas mãos a manusear o livro como se de um instrumento se tratasse. E eu, no chão, deitada, a fitar-te, a decorar cada gesto teu, para depois te desenhar pelos meus cadernos.
Mas para isto, tenho de ser realista e parar de imaginar coisas.
Raios.

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