domingo, 9 de abril de 2017

Hoje, observei o rosto da minha mãe, poro a poro. Mergulhei nas suas rugas escassas, na profundeza do olhar, do carinho cravado no seu rosto enquanto me observava também. Imaginei-a, com 15 anos, a correr pelos campos lá em Trás-dos-Montes, com os seus amigos. Livre de rugas e de dores nas costas, que ela tanto se queixa depois de estender a roupa três vezes e de fazer o almoço. Imagino o seu riso a ecoar, abanando os ramos das árvores. Imagino-a a cair e a mirar as flores que a envolvem, com o cabelo comprido na cara. Imagino o sentimento que a transborda do coração, o sentimento de ser imortal, eterna, sempre jovem. Olha para o céu, com os olhos semicerrados devido ao sol, até os fechar e viajar pelos pensamentos sobre o filho do padeiro, ou sobre o que vai ser o jantar preparado pela tia. Sobre os pés descalços, umas margaridas.

E agora, tantos anos passados, observo o seu rosto de mulher feita, que tanto viveu e sofreu, que perdeu a mocidade. Sou eu que carrego aquele sentimento, aquela esperança e imortalidade.
E assim, continuarei a passar, de geração em geração, os sorrisos entres as flores e os abraços aos amantes que desapareceram no tempo, com o vento da juventude.

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