quinta-feira, 29 de setembro de 2016
Quando saio à rua no pré-amanhecer, no qual o céu está da cor daquele azul, extremamente belo, calmo, sereno, acompanhado por uma frescura que não é fria, e tudo é silêncio. Não há carros a circular, não há pessoas a intimidarem-me, os sinais ainda estão intermitentes, e posso cantar a música que sai dos meus fones e posso dançar. Sou livre a esta hora.
No metro, a uma hora razoável, em que posso observar os rostos que nunca antes vira e através deles, imaginar as histórias que já passaram por eles. Conhecer as pessoas pela minha imaginação, que é, sem dúvida, muito mais fácil.
Um sorriso de um estranho, um gesto de ajuda, um peço desculpa atrapalhado, um obrigado sincero, um olhar. Gestos humanos, que me fazem sentir calor no peito.
O final de tarde, o sol a encadear-me os olhos, ver tudo de outra cor, ou escuridão. O calor na pele, o vento que faz com que os cabelos me ceguem, acompanhados pelo sol. Fechar os olhos e viajar.
Estar só. Somente só.
segunda-feira, 26 de setembro de 2016
Não me pergunto muitas vezes o porquê da minha existência e o que faço aqui, neste lugar indefinido. Acho que caí no conformismo, ou vejo outra coisa. Olho para o céu estrelado e vejo apenas isso e faz-me aperceber da minha insignificância, da minha inutilidade, no entanto, esse pensamento abandona-me quando volto à minha realidade: este quarto. Estes móveis, estes livros, esta confusão de objetos, de pensamentos, de sentimento e de gritos inaudíveis. Sou eu. É isto.
Existo aqui, agora, onde procura algo que saiba fazer, dentro desta pequena dimensão, neste sistema de farsa, de colisões, de iludidos. E, cheguei à conclusão, que apesar do seu inferno, eu encontro mais amor que ódio. Não é este quarto que me motiva nem os objetos dentro de si, nem o dever que me faz levantar todos os dias. São as pessoas. As pessoas. São esses pequenos grandes mundos que me motivam, aliás, a todos nós. Precisamos de nós. Tudo o que fazemos, fazemos na esperança de sermos amados, de sentirmos o toque quente de outro ser humano. Eu só queria que as pessoas chegassem a essa conclusão. Que o amor é a única coisa pura que partilhamos, é comum em nós, em cada um de nós. Todos conseguimos amar.
sexta-feira, 23 de setembro de 2016
Review: Julieta
Já me tinham dito que os filmes de Almodóvar são extremamente humanos, que retratam a fraqueza humana, e gosta muito de mulheres, tenta compreendê-las. E o filme é, precisamente, sobre uma mulher, Julieta, e sobre a sua vida, repleta de morte e consequente dor.
O filme começa com uma mulher chamada Julieta, na casa dos 40/50 anos, bonita e misteriosa, mas aparentemente feliz, pronta para abandonar Madrid e começar uma nova vida em Portugal com o companheiro. Porém, ao encontrar alguém do seu passado, ela muda de ideias. Fica em Madrid, e até muda de casa, uma casa também pertencente a uma vida antiga, e aí começa a analepse, quando escreve uma carta à sua filha, Antía.
Aparece uma bela mulher, a jovem Julieta, num comboio para Madrid substituir uma professora, para ensinar Literatura Clássica (sobe logo vários pontos na consideração do visualizador, claro). Um homem já com alguma idade senta-se à sua frente e tenta falar com ela, mas, como qualquer mulher, não gosta de ser abordada por um homem mais velho com um extremo interesse em falar-lhe. Então, ela ignora-o e abandona o seu lugar. E conhece o jovem Xoan, um pescador.
O comboio efectua uma paragem, e vários passageiros vão "esticar as pernas", mas Julieta fica no comboio. Quando o comboio inicia novamente a viagem, o condutor efectua uma paragem brusca. Alguém se matou, atirou-se para a linha do comboio. O homem que tentou falar com Julieta. E, a partir daí, a dor, a morte, a culpa, assombra-a.
Julieta e Xoan começam um relacionamento, tendo nascido desse amor, Antía. Aparentam uma vida feliz, até Julieta descobrir a infidelidade de Xoan, e depois de uma discussão do casal, este ir pescar para a tempestade, e acaba por morrer. Entretanto, Antía estava num acampamento e posteriormente foi para Madrid com uma amiga, sem saber da morte do pai. Julieta, mergulhada num luto profundo e num sentimento de culpa, entra em depressão, e será Antía e a sua amiga, Beatriz, que a ajudarão a cuidar de si mesma.
Mudam-se para Madrid, Julieta e Antía, para Antía estar perto da sua amiga inseparável. Julieta não tomava decisões, a sua apatia ao mundo não a permitiam sentir nada. Há uma cena em particular que leva o espectador às lágrimas, pelo menos a mim levou. Julieta está na banheira, apática, sem focar um ponto, leve de seu corpo, longe deste mundo, características da depressão, e Antía e a sua amiga Bea, tiram-na da banheira com dificuldade. Só de pensar nessa cena, as lágrimas voltam a mim. O amor entre mãe e filha, a ajuda incondicional, mas Julieta era a mãe, e a Antía era quem fazia de mãe, era ela quem cuidava da mãe, sendo esquecida que também ela perdera o pai, sentia-se sozinha, e consequentemente, a mãe.
Antía cresce assim, num lar distorcido, ausente de carinho, de amor, de educação. E, aos 18 anos, pede à mãe para fazer um retiro espiritual, uma experiência normal para um jovem de sua idade.
Porém, Antía desaparece...durante 12 anos.
E o filme é isto, é a dor da ausência das pessoas que mais amamos, sendo nós os culpados desse desaparecimento, sem nos apercebermos dessa culpa. E conseguimos sentir a dor de Julieta, devo dar as congratulações à atriz, Emma Suárez pela sua bela interpretação, que me levou às lágrimas várias vezes durante o filme. Porém, Antía volta a dar sinais de vida. Perdeu um filho e pede desculpas à mãe, que a perda de um filho é a maior dor do ser humano, e nunca pensou que seria possível sofrer assim.
Um filme sobre a fraqueza, sobre a dor, sobre o ser humano. Que será sempre egoísta, sempre uma vítima de um destino.
quarta-feira, 14 de setembro de 2016
Diálogo ou Poema: Roses are red, Violets are blue
(o que não está a Bold foi escrito por mim)
Saber sentir, e sentir que sei
Mas saber para quê
Quando não saber é ser feliz
O que é ser feliz?
Podemos ser felizes?
Não. Somos demasiado complexos
para alcançar a felicidade.
Será a felicidade alcançável, ou
será ela apenas um estado imaginável? E
não sentido
Vou tentar imaginar. Ligo-te mais tarde.
Imaginar cansa, sê apenas feliz...
Mas imaginar é ser feliz.
A realidade é-me triste.
O que é a realidade?
É o que eu quiser.
Isso é a tua imaginação.
E não pode ser a minha realidade?
Se viveres a tua imaginação e não o
teu ser existente, sim pode
Mas eu existo sempre...
Certo?
É a única certeza que tens
Às vezes não tenho certezas. E sou
um fruto da minha imaginação.
E se o que vejo é diferente do
que vês? Se sou feita de outro
material? O que sou?
O que somos?
Nada mais do que nada
Então porque sinto ser tudo?
Porque ser tudo é um desejo e não
uma condição, entendes?
Mas eu não desejo ser tudo,
simplesmente sinto.
Ser tudo é morrer.
Então, ao morrermos alcançamos
a perfeição?
Não, mas é o final perfeito
Porque não pode haver outro.
Essa sim, é a única certeza
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
quarta-feira, 7 de setembro de 2016
Aproximadamente longe
(sinto que este texto ficou tão contraditório e estranho)
terça-feira, 6 de setembro de 2016
Review: Ruby Sparks
Calvin, um ser humano complexo, perdido, triste, sem qualquer perceção sobre o seu futuro amoroso, e também com dificuldades em conhecer mulheres, imagina a pessoa perfeita, fruto apenas da sua imaginação, da sua escrita. Imagina a sua cor de cabelo, cor e feitio dos olhos, o seu sorriso, a sua infância e a sua educação, o que gosta, o que não gosta, os seus pensamentos, os seus sentimentos, enfim. E ela nasce, Ruby Sparks, salta do imaginário para o real. E Calvin é que a vai definido, como se fosse uma marioneta. Mas, não será isto um egoísmo, apenas um desejo pessoal, querer mudar as pessoas para tornarem-se perfeitas para nós, que se adaptam a nós, que são apenas nossas? Isto não é possível, e esse filme demonstra-o.
As pessoas não são para serem inventadas, ou manipuladas, e muito menos, para serem mudadas. Ou amamos pelo que elas são, ou não dá. Se Ruby faz algo que desagrada Calvin, ele vai à sua máquina de escrever o seu desejo, e tudo se resolve. Isto é apenas uma metáfora. Este filme é apenas uma metáfora. O amor entre Ruby e Calvin é belo, não temos dúvidas acerca disso, ele inventa uma rapariga conflituosa, uma rapariga irreal, mas, que na verdade, ela é tão real! As pessoas não se imaginam, elas simplesmente existem, e aparecem. Não mudemos as pessoas, Calvin.
O filme não poderia acabar melhor. Algumas lágrimas podem não ser evitadas, porque, como é óbvio, Calvin não consegue viver assim, a moral acaba por o atingir. É justo estar a prender Ruby a mim? Então, liberta-a. Acaba o livro. Ela desaparece da sua vida. Mas reencontra-a. Bem, reencontrar talvez não seja a palavra certa, ele encontra a verdadeira Ruby Sparks, uma mulher que existe, que exige conhecê-la, compreendê-la, aceitá-la, e amá-la. E assim, Calvin aceita o seu destino.
Isto não é uma história de amor. É uma história sobre o egoísmo humano. Sobre a aceitação da dor.
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
Estranha coisa esta de me apaixonar por histórias e por personagens imaginárias e torná-las na minha realidade, senti-las dentro de mim como um aperto quente. Se calhar é a minha única maneira de conectar com o real, imaginando-o, apaixonando-me por pessoas que não existem e viajar dentro delas, conhecendo-as profundamente, compreendê-las. Fecho-me do mundo nestas quatro paredes, abro um livro, e a magia acontece em mim e no espaço. E é assim que vivo, que sou feliz. Mas, de vez em quando, tomo consciência de que tudo isto é irreal, só eu existo, e estes móveis e objetos que me rodeiam, estas histórias, estas pessoas, estas paixões, são apenas preenchimentos ao meu vazio. E essa tristeza abate-me. Tantas personagens que fazem parte de mim, que, de facto, parece que consigo ter conversas intermináveis com elas na minha cabeça, compreendo-as, compreendem-me. Mas é uma ilusão. E o pior é quando encarnam essas personagens em filmes, ainda mais reais ficam e mais afeto nasce em mim. Que coisa caricata. Ilusão do real, imaginar o real, que paradoxos, ou não? Como se o real fosse uma coisa objetiva, absoluta, credível. Apenas cada um tem a sua maneira de viver. O que pensou Oscar Wilde ao dizer que apenas existimos, não vivemos? As pessoas vivem de acordo com os seus gostos e perspetivas. Lá por amar histórias fictícias e chorar por vidas inexistentes e isso fazer parte do meu viver, não vivo realmente? Apenas existo? Isso não me faz sentido, perdão Mr.Wilde, o viver é subjetivo e um conceito demasiado amplo para catalogar as pessoas. Mas compreendo a frase, só é somente uma perspetiva, não uma conclusão verosímil. Sinto-me completa e viva às vezes, outras vezes sinto-me vazia, sinto que falta qualquer coisa. Não é normal? A felicidade não existe, não me venham com tretas, a vida é repleta de emoções e estados momentâneos. Bem, sinto também que já estou a divagar e a fugir ao assunto, como sempre. Não pensem se estão a viver a vossa vida como deve ser vivida, isso não existe. São as nossas vidas, e a vida é a provavelmente a única coisa que podemos assumir como nossa, portanto, façamos o que quisermos com ela.