No outro dia, enquanto caminhava na rua, a levar com o vento na face, pensei na minha infância, como cresci, quem me criou. Às vezes tenho pensamentos assim, quando me encontro sozinha com o mundo. É estranho pensar que as pessoas que me criaram, e que me ainda estão a criar, ou seja, as pessoas que formaram este ser que sou hoje e virei a ser, também já foram como eu: um ser com medo, perdido, caótico e sem rumo. De certo modo, este pensamento reconfortou-me, porque fez-me sentir menos sozinha. Imaginei a minha mãe, hoje toda segura de si, com 16 anos, a cometer os estúpidos erros de adolescente, apaixonada e perdida, a fugir da sua realidade. Imaginei o meu pai, hoje feliz, outrora jovem, confuso, sem saber o que fazer da sua vida ou onde estaria daqui a 20 anos, mas a vivê-la com um sorriso na cara. Imaginei o meu tio, louco, amante da vida, sem saber o que o futuro lhe esperava, mas fazer o que amava.
Neste pensamento, encontrei conforto. Porque não posso torturar-me por estar perdida nesta vida. Por me sentir impotente, inútil ou mesmo sem vocação. Devo fazer o que me cativa, o que me apaixona, a vida há-de me colher nela e encontrarei o meu refúgio, mesmo não sendo necessário tendo um. Encontrarei-me, num futuro, próximo ou longínquo, não me interessa, preciso de confiar no amanhã para amar o dia de hoje. Sei que não estou sozinha. Sei que somos um mar de revoltosos, de jovens idealistas sem saber o que fazer. À medida que os dias vão passando, vou-me apercebendo que a juventude é a minha arma, o meu momento de brilhar. Tenho um corpo que me obedece, uma mente sã e olhos confiantes, tenho o mundo nas minhas mãos, só me falta afiar as garras. Quero tanto viver, quero tanto amar, quero tanto aproveitar estes anos de ouro, de procura, de encontros! A vida está cheia de vida! Não vou deprimir por não saber o que fazer, devo alegrar-me por haver tanto que fazer! Mesmo que seja um mundo desconcertado, sem rumo, eu tenho força para o concertar, eu e muitos. Preciso de viver.
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