terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Vou Crescendo e Cresço

Vou crescendo. Vou crescendo e esta dor vai-se tornando imutável, irreversível, cada vez mais profunda. Cresço e cresce em mim uma dor irremediável. Mãe, consegues salvar-me? Como me salvavas quando era uma criança, e esfolava os joelhos e chorava, e tu vinhas com as tuas mãos de cetim por-me aquele líquido castanho saído de uma embalagem amarela que eu achava assombrosa. Beijavas-me a ferida para aquele ardor passar, e dizias "já passa, meu amor, já passa". E eu pensava que esse ardor do líquido castanho era a dor mais horrível que existia. Mas, agora, é-me tão leve. Tão leve com uma pena que nos paira no ombro e mal a sentimos, e paramos para apreciar a sua beleza. Agora dói-me cada célula. Cada interstício do meu corpo, Nada me pode salvar desta negridão na minha alma, nem tu mãe, que sempre foste um anjo branco, onde as tuas asas eram a minha paz. Agora, nada me ampara, nada me abraça, nada me salva. Nem eu consigo salvar-me de mim própria. Talvez se arrancar a minha pele aos poucos, a dor vai desaparecendo ou reconfortando-se nas cavidades dos meus orgãos, escondendo-se como uma doença adormecida. E, vou crescendo, na esperança que tudo melhore, e cresço.

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