Gostava de saber escrever. Gostava de conseguir juntar as palavras de maneira fluída, mágica, que realmente acordasse um neurónio adormecido de uma mente humana. Falta-me o jeito. O jeito de articular uma palavra com outra, falta-me palavras nas mãos, penso pouco. Falta-me metáforas, sinédoques, paradoxos. Falta-me aquele toque de Fernando Pessoa, de Garcia Márquez, de Rosa Lobato Faria, que conseguiram que eu me apaixonasse pelas suas palavras; que conseguiram soltar-me lágrimas dos olhos quando nada sentia. Como adorava ter força. Força para mostrar o que faço, mesmo sendo medíocre. Força para escrever na rua, para escrever sobre ti, sobre aquele senhor que está sozinho no metro cabisbaixo, com os olhos brilhantes de tristeza. Falta-me poesia no vento. Faltam-me palavras nas ondas do meu cabelo. Faltam-me letras nos pés em que piso este chão molhado, falta-me imaginação nas mãos e racionalidade na cabeça. Falta-me muita coisa e isso deixa-me profundamente infeliz. Porque me sai suor da pele, e não pós de magia que me enchem os cadernos de palavras esbeltas? Porque me saem lágrimas e não sinónimos de tristeza? Porque não posso ser um livro que anda, que fala, que dança, que sente? Eu só queria que alguém tivesse paciência de me ler, mesmo não me conseguindo escrever. Se eu soubesse escrever, podes crer que as minhas palavras te fariam chorar, gritar, rir, sentir até aos extremos da tua pele! Mas o se é uma palavra que me vai assombrar até ser pó e ossos. E morrerei triste, inacabada, vazia como um caderno por escrever. Porque me faltam palavras.
Inesistente
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