segunda-feira, 27 de março de 2017

Tinha para aí uns 16 anos. Era uma adolescente parva, a passar por uma fase de rebeldia, de querer ser diferente, revoltada com tudo. Enfim, fases da vida, que agora me fazem revirar os olhos e esconder a cara sobre as mãos.
E, por trás das roupas escuras, da música barulhenta dos fones e do "ódio" que tentava aparentar, fiquei maravilhada por um senhor, no metro, que dançava as mãos. Parecia que tocava num piano imaginário, ou tateava pelas águas ou massajava o corpo de um gato. Poderia arranjar milhares de metáforas com os gestos que ele fazia com as suas mãos, mas muito resumidamente, era uma bela dança. Sorri, fiquei encantada com a cena. O senhor estava de olhos fechados. Tristemente, não me recordo bem do seu rosto, e se o visse, não o reconheceria, mas lembro-me das suas mãos. Finas, muitos finas, elegantíssimas, dedos longos, de pianista,
Sempre gostei de mãos, É aquela parte da fisionomia da pessoa que me chama logo atenção. As mãos primeiramente que os olhos, talvez. Os olhos são um contacto muito directo, pelas mãos procuro apenas frases soltas.
Observei o senhor a sair da carruagem, sempre com as mãos a dançar.
E, sem o saber, tornou o meu dia bem mais colorido e caloroso.
Um carinhoso obrigado.

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