domingo, 19 de março de 2017

                 Quando vê o metro, avança até à ponta do cais, não respeitando o aviso da senhora para não avançar depois da linha amarela. E o cabelo esvoaça e os rostos aproximam-se. Apanho sempre um susto. Talvez ela goste de sentir a velocidade, como uma metáfora para a vida, para a modernidade.


Costuma ter um livro nas mãos. E gosta de sentir as páginas debaixo das unhas.Às vezes está só a olhar para os rostos ou então para a escuridão para lá das janelas e o livro está ali apenas para tatear.


Às vezes fixa muito a porta do metro.
E cria imagens das manchas que lá habitam.
   
    A lua hoje está sorridente, disse ela. Costuma estar melancólica mas hoje está a sorrir. Porque será? Ou sou só eu?
                                          Só eu é que vejo as expressões da lua?
Porque tenho esta necessidade de lhe dar características humanas? Porque penso tanto?

                     Olha só.
Tatea.


Não vejas.
                                                               Não observes.

Mas as nuvens são aborrecidas quando são só nuvens.

E a lua não fala comigo se não vejo lá uma expressão.

E as estrelas não brilham se não pensar quão irreais elas são.

E a relva não é verde, se for só o verde a sua característica.


   Deixa-me arrancar todas as tuas ervas daninhas e rasgar a pele das tuas folhas, e passar os dedos pelo teu cabelo de ouro e beijar as tuas pálpebras até esquecer a cor dos teus olhos.
                                     São verdes.
Ou castanhos?
        Não têm cor, são apenas.

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