sexta-feira, 10 de março de 2017

Há uns dias atrás, enquanto jantava com a minha família, mais um jantar num dia de semana, sagrado, no qual nos reunimos depois dos dias cheios, com cansaço às costas e raiva na garganta. Estávamos na sobremesa, final do telejornal e anunciaram a descoberta de um novo sistema solar, a 40 anos-luz de nós. Parei e fitei a televisão e observei aquelas imagens de planetas de um universo, repleto de corpos estranhos, impossíveis aos meus olhos de alguma vez os alcançar. Sinto um peso no peito, um vazio na cabeça. Dói quando a insignificância nos confronta, quando a realidade é relativa e tudo o que sou é uma ilusão, tudo é imaginário, ou um fragmento do que julgo ser. Oiço o meu pai a informar-se de mais factos sobre o supra-lunar e cada vez me dói mais o corpo e só quero chorar e gritar.
                                      Pai, não somos nada, absolutamente nada.
E depois recordo-me do mundo que somos.
Estes organismos minúsculos inseridos numa área desconhecida, cheia, que transborda existências, que pensam, que sentem, que têm consciência da sua fraqueza perante esta triste realidade. E amamo-nos e abraçamo-nos, e beijamos e procuramos outro corpo, outro mundo, igual ao nosso, para mergulhar, para esquecer a nossa insignificância, e sermos assim, insignificantes, mas de mãos dadas. É esta a nossa natureza, nesta prisão, e observamos com um olho fechado e metade do cérebro desligado, sobre o que vai além da lua, das estrelas, para não lembrar que a imagem que vemos está morta. Se calhar estou morta. Se calhar o que sinto é o que me mantém viva. Talvez pensamentos são o sangue da minha consciência que me mantém existente.

(ao transcrever o texto, apercebi-me da sua mediocridade, mas foi escrito durante uma crise existencial, em que me doía realmente o peito)

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