segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Não ando a lidar bem com a efemeridade. Com a fugacidade do tempo.
Vejo o tempo como se fosse o vento que me escapa ao rosto. O vento que leva sensações, leva caras, leva vida. Leva a minha vida. E miro o rio, as árvores, a ponte lá ao fundo e fico assim apenas, a observar, a mirar.  E vejo as crianças nas bicicletas, as amigas a correrem, o casal ali à beira do rio aos beijos e abraços, e um senhor solitário a pontapear pedras. E eu aqui, de sobretudo até ao pescoço, de gorro na cabeça, tudo para passar despercebida, e apercebo-me que não é a roupa que me fecha, sou eu mesma. A minha alma encerra-se a este mar de sensações, que é a vida. O tempo passa, o vento tem diferentes cheiros todos os dias, o rosto da empregada do restaurante vai envelhecendo todas as semanas, assim como eu, como tu, como nós. A cada segundo que passa, morre-me células, enruga-se-me a pele, os olhos perdem o brilho. São anos que duram, esta metamorfose, mas tudo é tão fugaz, que parecem dias.
Observo as minhas primas pequenas, aqueles sorrisos histéricos, conversas sem sentido, banalidades. E vejo-me ao espelho. Também outrora tive aquelas conversas. Também gostava de roubar os pacotes de açúcar dos cafés dos adultos, pegar nos restos das bebidas, no sal e na pimenta e misturar tudo, ser feliz com esta coisa estapafúrdia! Mas era, era tão feliz. Deixava-me tão alegre, tão distraída. Que bela simplicidade. Gosto de abraçar os corpos pequeninos dos meus primos, e apetece-me dizer "não morram, não deixem esses sorrisos morrerem nas vozes grossas da puberdade, nas vozes que um dia vão dizer coisas horríveis". Mas abraço só e digo adeus. Adeus, boa sorte para os testes. Boa sorte, não faças feridas nos joelhos. Tenta não partir a cabeça enquanto jogas com os teus amigos, ou saltas em cima da cama. Tem cuidado. Beijinhos

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