domingo, 19 de fevereiro de 2017

Grita-me.
Perfura-me.
Agarra-me pelas têmporas, encosta a tua testa à minha e grita-me até a voz te cansar e eu abandonar o meu corpo.
E olho-te as lágrimas, a dor cravada no teu rosto.
Que fiz eu, diz ele. Que fiz eu, Maria, para me fazeres isto.
Não te amo mais. Não sinto nada.
Tornaste-te num nada.
Eu sinto-te imensamente, mas não há nada no meu peito.
Tapa-se-lhe a cara.
E grita, e soluça.
Encosto-me à parede, à procura de lágrimas, de uma dor no corpo, não sei.
Qualquer coisa. Estarei a dormir?
Observo-o no seu sofrimento.
Ele olha-me. Como me tornei tão indiferente? Não consigo respirar, Maria.
Perdoa-me,
Imaginei quando te amava, quando te dava a mão na minha rua, quando tinha o teu corpo sobre o meu. E pensei que isso nunca mais iria acontecer, que ele era uma porta que se fechava na minha vida.
Nada.
Não há aqui nada.
Bate-me.
Faz-me sentir qualquer coisa.
Não. Poderia matar-te aqui e agora, mas não seria igual à dor que me estás a causar.
Sai.
Sai.
Não somos nada.
Somos nada.
Nada.
Abandona-me.

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