Relatos Selvagens é um filme argentino que contém seis histórias diferentes. Basicamente são vários filmes dentro de um mesmo filme, que acabam por ter uma ligação. Achei o conceito interessante, porém, é diferente. Primeiro estranha-se, pois estamos habituados às histórias contínuas, a conhecer as personagens e seguir uma ação, o que aqui não acontece. Cada história tem o seu tema e as suas personagens, mas vão todas dar ao mesmo conceito: o nosso lado mais selvagem. Estas pequenas histórias apenas afirmam a complexidade do ser humano, e como a sua verdadeira natureza se esconde por trás desta sociedade civilizada e sobre estas máscaras sorridentes que colocamos todos os dias.
(se querem ver, não leiam este parágrafo)
A história introdutória passa-se num avião. Um homem inicia uma conversa com a mulher que está ao seu lado, provavelmente por ela ser bonita. Conversa de circunstância, mas através desta, descobrem que conhecem uma pessoa em comum. Sendo ele crítico de música clássica, e tendo ela um ex-namorado que era estudante de música clássica, Gabriel Pasternak entra na conversa. O crítico conta o episódio de quando Pasternak compõe uma música e envia para um concurso, uma música, aparentemente, horrível e intragável para os ouvidos. Entre críticas e memórias da personalidade e feitos de Gabriel Pasternak, uma outra senhora intervém, afirmando também conhecer o rapaz. E, por acaso, também não tem boas memórias deste. Demasiadas coincidências para se afirmarem como tal, o crítico exclama bem alto se mais alguém conhece Gabriel Pasternak. Toda as pessoas que estavam no avião conheciam. Incluindo a hospedeira, que vem avisar as pessoas que Gabriel Pasternak trancou-se com o piloto e co-piloto. Já sabemos o final, obviamente. No entanto, o psiquiatra de Pasternak tenta persuadi-lo, dizendo que toda a sua frustração e falhanço na vida são frutos de uma má educação e pressão pelos pais, e que as pessoas que ali estavam não tinham culpa de nada. E onde o avião vai cair? Em cima da vivenda dos pais.
Todas as histórias que se seguem têm este enredo estranho, mas genial, temos de admitir. Todas sobre a loucura, maldade, corrupção, vingança, enfim, que temos dentro de nós, todos nós. As personagens das histórias somos nós. Vemo-nos ao espelho, no que somos capazes de fazer sem nos apercebermos, que num ato de loucura, de impulso, conseguimos ser o que odiamos. Pequenas curtas-metragens impressionantes, extremamente reais e humanas.
Cinema argentino e espanhol já estão na minha lista cinematográfica para serem explorados.
Sem comentários:
Enviar um comentário