segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

O metro está cheio, para variar. Os meus fones estragaram-se, e agora? Bem, fico a observar as pessoas. Agarro o ferro, húmido, rodeada de seres humanos estranhos. Não tenho espaço para tirar o livro da mochila, e mesmo que tivesse, nem tinha espaço para o abrir. Olho para os meus companheiros de espaço. Uma senhora de cabelo apanhado, loiro baço, na casa dos 50, talvez, não sou boa a julgar idades. Tinha uma sombra branca nos olhos, não lhe ficava lá muito bem, na minha opinião. Ia a olhar para os pés, ou para o chão, do pouco que se via dele. No metro, todos parecem tristes, não consegui captar bem a sua expressão. A seu lado, estava uma mãe e a sua filha muito pequena, que me tocou na mão durante a viagem e lancei-lhe um sorriso, o mais sincero que consegui fazer. Também observei um homem, mas não me recordo bem da sua figura. Acabei também por me render ao chão e aos pés, e ficar presa aos meus pensamentos e desligar-me do meu sentido da visão. E pensei em ti. Penso em ti todos os dias, mas nestes espaços vazios e inócuos, nestes momentos de completa solidão e individualidade, vejo-te mais nitidamente. Sinto o teu toque na minha mão, um beijo no cabelo e palavras para me salvar deste sentimento de estar sozinha. Vejo-te no metro, vejo-te na rua quando o vento me bate com força no rosto, vejo-te nas minhas paredes que ouvem os meus gritos, vejo-te deitado nos meus lençóis. 
E assim passam dias, semanas, meses, e continuas a dissipar-me do olhar. 
E assim te procuro, nos espaços dos meus dias, no vazio do meu ser, na rua onde nos abraçamos tantas vezes, no chão que pisaste, nas portas por onde entraste, e tudo é um rasto teu, nosso, que não é mais palpável. E sei que não posso voltar atrás. Só me resta esta esperança, que sabe a tão pouco.

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