quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Vou escrever um pouco sobre a minha pessoa. Mas muito pouco. Apenas uma coisa vaga sobre mim.
Não sei se já outrora mencionei, mas a dança é uma das minhas paixões. A dança contemporânea, para ser exata. Sim, quando me afirmo como sendo pseudo-artista multifacetada, é verdade, lá tento criar qualquer coisa com as palavras, com traços e tintas, mas também com o meu corpo, e em breve, vou experimentar o teatro. Enfim, uma eterna curiosa pelo lado sensível da humanidade. Mas não é disso que venho falar, aliás, o que disse agora tão diretamente sobre o eu, acaba aqui (assim tentarei). Vou agora, descrever um acontecimento que me marcou hoje, dia 23 de Novembro de 2016.
Fui à aula de dança contemporânea, com um Professor que faz sempre exercícios de acontecimento fora do normal, que uma pessoa de fora que nos visse, acharia uma completa loucura ou então, realmente, que preenchesse o estereótipo da muito incompreendida dança contemporânea. Entendo que seja. Não é de todo uma dança para divertir, para entreter, para ser um momento agradável. Pelo menos, eu choro a ver esquemas de dança contemporânea. Mas esta modalidade é um mundo, há várias danças na dança contemporânea. Umas que puxam mais pelo pensamento e parte emocional, outras que nem tanto, mas tem essas características como base.
Continuando o episódio, o professor hoje pediu-nos uma coisa que me apeteceu, por um lado, fazer o exercício com garra, mas, por outro, fugir a sete pés."Vão ter de olhar diretamente nos olhos de outra pessoa, sem o desviar, e podem roubar olhares, mas nunca podem ficar a olhar o vazio, agarrem as pessoas". Terei sido a única naquela sala com 20 pessoas que fiquei ligeiramente em pânico? Olhar nos olhos durante minutos? Em movimento? Sempre me foi difícil olhar diretamente nos olhos das pessoas, nem sei bem explicar o porquê. Se capto o olhar de alguém, essa pessoa, essa cara, esse nome, fica eternamente na minha memória. Não vou esquecer as caras que olhei durante tanto tempo no dia de hoje. Será de mim, esta inquietação perante o olhar, o mais emocional, metafísico e misterioso membro do corpo humano? Sempre que o meu olhar encontra outro, uma onda de arrepios trespassa-me. Será isto uma espécie de magia? Um contacto visual, um contacto que acontece num universo paralelo, que une duas pessoas por breves segundos que, depois, passam a ser desconhecidos e esquecem-se no resto das suas vidas.
Olho as pessoas e imagino o que fazem, o que são, o que gostam, o que as motiva. E, talvez o olhar desvende mais que a boca. Talvez, essa ideia que o olhar nos dá de determinada pessoa é mais agradável do que ela realmente é. Talvez não, tenho a certeza que é quase sempre assim.
E olhei, profundamente, cada pessoa nos olhos. Uns castanhos, outros azuis, uns mais brilhantes que outros, uns sorridentes, outros tristes...E perguntava-me acerca delas, dos seus nomes, das suas paixões. Bem, tínhamos todos em comum a paixão pela dança contemporânea. É estranho, porque sempre que os encontrar dir-lhes-ei um breve olá, quando outrora conhecemos os olhos, o olhar, uns dos outros. Os nossos corpos entrelaçaram-se na dança, e os olhos, apenas abraços calorosos. E o verbo agarrar! Agarrem as pessoas, assim disse o professor. Não poderia concordar mais. É agarrar com toda a força.

Tudo isto é estranho de afirmar. É estranho de explicar. Talvez pensem que sou doida. Talvez seja. Provavelmente sim.

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