quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Todos estes autores que me rodeiam, que me familiarizo aos poucos, que vou conhecendo ao longo do tempo, fazem-me chegar a uma conclusão que nunca outrora tinha pensado. Os grandes autores, artistas, poetas, enfim, estes génios, têm, quase todos, algo em comum: a introversão. Noutro dia, li a autobiografia do Valter Hugo Mãe que este escreveu para o Jornal das Letras. Ainda não li um livro dele, mas a autobiografia disse-me muito sobre, sobre a sua infância, sobre a sua personalidade que nunca se alterou: o poder da observação, o silêncio, a solidão. E essa observação intrínseca, intensa, a eterna curiosidade das coisas, conseguiu ele transmitir pelas palavras, criar uma musicalidade entre elas e ser um grande escritor. Não apenas isso, mas realmente, conseguir ter o poder de dar sentidos às palavras, de fazer arrepiar o leitor, de nos fazer apaixonar pela sua escrita. Tudo isto senti a ler uma autobiografia de tamanho mísero, imagino os livros.
E concluí, que Valter Hugo Mãe não foi a única criança solitária, silenciosa, fora do vulgar. Os grandes génios são introvertidos. Não que eu seja um génio ou algo que se pareça, mas eu não fui uma criança diferente, antes pelo contrário. Hoje sou tudo o que não fui na minha infância. Era faladora, ria, abraçava as pessoas, era tão fácil dar a mão nessa altura. Mas fui-me moldando, fui-me tornando menos faladora, mais observadora, mais ouvinte, e também mais pensadora. Terrível livrarmo-nos daquela simplicidade feliz da infância, e o pensamento auto-destrutivo nos apoderar, nos derreter por dentro. Portanto, talvez nunca conseguirei alcançar este dom da escrita. Nunca serei especial. Não queremos todos ser especiais? Torna-se uma banalidade querer ser especial, querer ser diferente. Mas já fui mais igual, já fui mais simples. Não queremos todos destacar-nos? A vida não é como nos filmes. Ainda tento tornar a realidade nesta ficção com que me rodeio, neste mundo encantado em que vivo, aliás, onde o meu psíquico vive.
Portanto foi isto que pensei, que nunca serei especial, nunca me destacarei, porque nada faço que realmente valha a pena, as minhas palavras não são tão fortes como eu gostaria. Mas continuo a viver.

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