Vivo numa
leveza pesada.
Sinto-me
leve, serena, mas há um peso que não me deixa viver completamente e sorrir sem
depois chorar.
O peso do
tempo, o peso do amor, o peso da partida, o peso da mudança. Tudo tão leve, na
verdade, porque são as verdades imutáveis da vida. E eu, ser vivo neste
planeta, não consigo contornar estas ubiquidades. Estão sempre aqui, lá, acoli,
e eu não posso fugir. Os dias vão passando e a mudança virá, como uma onda que
me leva para outra margem, ou para me afogar, de vez. Sinto-me leve e frágil
perante estas mil ondas que me deixam sempre ofegante e em desespero. A
angústia consome-me. O peso esmaga toda
a minha leveza. Como uma pena, escrevem-me na areia, enterram-me, atiram-me ao
ar, e voo, voo, e não volto. Mas eu só quero voltar. Só quero voltar a sentir o
amor, o toque das tuas mãos sobre a minha pele fria. Só quero voltar ao abraço
da minha mãe. Só quero voltar à casa lá no sul do país e apanhar caracóis no
quintal entre mil e um risos de crianças. Só quero voltar a sentir a plenitude
de um ser harmonioso. Agora há sempre fantasmas, fantasmas com corpos, que se
deitam sobre mim enquanto durmo, e acordo sempre pesada. O agora será outro agora amanhã. E não sei se
será mais leve, ou mais um peso se deitará sobre mim
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