domingo, 6 de janeiro de 2019

Sinto-me vazia.
Sufoco-me nesta ausência de palavras e tempestades no meu corpo. Acordo, adormeço, e entre estas duas ações, acho que morro. Em gestos lentos para me levantar, em passos rápidos com esperança de chegar, mas eu sou estanque. Morri nos interstícios da busca para me encontrar. Respiro sem vida. Nada dói,
nada alegra.
Caminho como um fantasma que flutua, observando os outros, desejando ser outros. Ah, como eu gostava de ser outro! Poder divertir-me sem pensar, poder pensar sem doer, poder rir sem pensar que vou depois entristecer. Parece que me foi destinada uma tristeza crónica, escondida por trás da epiderme, que de vez em quando se abre em feridas.
Não sou doente, só apenas consciente.
Podera eu olhar para as flores sem pensar no meu inevitável desaparecimento. E o mundo deixará de existir.
Eu só quero amar. Amar até me doer a respiração e sentir as vibrações da vida. Que os meus gestos não sejam só para mim, mas para serem vistos, amados.
Gostava de escrever sobre o meu coração que dói, mas não dói. Só sinto a vida através das flores, das árvores, dos olhos que me fitam, das mãos que me tocam.
E volto ao silêncio das paredes da minha casa,
e morro mais uma vez,
todos os dias.

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