terça-feira, 4 de julho de 2017

Acalmante

Esqueço-me sempre que o comboio para o Rossio vem às e 26 e não às e 22 como o que vai para Entrecampos. Espero, assim, 10 minutos. A estação tem três pessoas. Podera, é meio-dia, as pessoas trabalham a esta hora. E depois há uma percentagem que anda perdida de comboio em comboio, encantando-se com a paisagem fugaz oferecida pelas janelas, mas chega para matar o vazio no peito, por uns segundos. Leio o livro que comprei há duas semanas, um do Al Berto, que me enche a alma de lágrimas e vontade de viver. Vivo assim, a vida dos outros. Sinto sensações de personagens que não me são reais. Não lhes posso tocar, mas habito por baixo das suas peles. O comboio aproxima-se e custa-me desviar os olhos das belas palavras. Não costumo sentar-me nos transportes, tenho pernas jovens que aguentam o peso da minha cabeça. Mas hoje não aguentam o peso do meu coração, e lá me apoderei de um lugar, à janela, claro. Bastei-me da minha leitura. Estranho, nem observei as pessoas a meu redor, pois alimento-me das minhas observações. Vejo rostos, mãos, olhos, gestos, abraços, flores, cores e fecho os olhos e crio a minha história na minha cabeça. Afinal de tudo, a imaginação é a minha melhor forma de viver.

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